Saúde

Tudo o que você precisa saber sobre a menopausa

Nem todas as mulheres terão os sintomas típicos do climatério e o mais importante é se adaptar à nova fase;

Qui, 14/01/21 - 03h06
A estilista Simone Pontes Carneiro, 51, tem encarado com naturalidade as transformações pelas quais vem passando desde o início do climatério, período de transição fisiológica da fase reprodutiva para a não reprodutiva da mulher, que abrange a menopausa, a última menstruação espontânea | Foto: Arquivo Pessoal

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Imune aos diversos mitos e todo o temor que a simples menção da palavra “menopausa” gera, a estilista Simone Pontes Carneiro, 51, é dessas que encaram o processo de envelhecimento como parte da vida. Com a tranquilidade que lhe é característica, teve a muitas vezes temida última menstruação espontânea em março do ano passado. Antes disso, já sentia sinais do climatério, como é descrito o período de transição fisiológica da fase reprodutiva para a não reprodutiva, que geralmente ocorre entre os 40 e 55 anos e que tem desdobramentos emocionais. “Sentia aquelas ondas de calor. Me via suando sem mais nem menos. Então, procurei uma ginecologista e, há cinco ou seis anos, venho me preparando”, pontua, destacando estar ciente de que este é um momento de muitas transformações, comparável ao adolescer. 

“Eu sou uma pessoa que se adapta fácil, que não fica sofrendo por batalhas que seriam perdidas. A flacidez da pele, por exemplo, sei que é um fato e que eu tenho que aprender a conviver. Não que eu não seja vaidosa. Pelo contrário! Mas me atenho a cuidar daquilo que está ao meu alcance. Faço exercícios e tenho boa alimentação. O resto, seria como esperar um milagre”, assinala Simone, fazendo referência à expectativa sociocultural de que as mulheres devam resistir ao envelhecimento, apelando até mesmo a procedimentos estéticos experimentais e de risco. “Existem mitos sobre a menopausa que são mais aterradores que o fato em si. Ouvi que iria perder libido, que minha pele envelheceria da noite para o dia. O que existe é uma mudança e uma necessidade que a gente se adapte ao novo momento que chegou”, considera.

Boa parte do terror criado em torno dessa fase de transição se explica pela divulgação errônea de sinais e sintomas que, apesar de serem muito particulares, são tratados como regra geral. “Em resumo, o climatério é caracterizado pela interrupção da fabricação dos hormônios progesterona e estrogênio. Esse fenômeno pode vir acompanhado de diversas sensações, embora algumas mulheres não passem por nenhuma delas”, cita a ginecologista e obstetra Adriana Guimarães Moreira Sad.

Os sinais mais comumente relatados são a perda do interesse sexual e da elasticidade da pele, o ressecamento vaginal e as ondas de calor (chamadas de “fogachos”). Menos perceptível, há ainda a perda óssea, que pode contribuir para o desenvolvimento da osteoporose, a maior propensão para ocorrência de infecções vaginais e o aumento do risco cardíaco. Somam-se a esse quadro as implicações emocionais, como tristeza, angústia e irritabilidade.

E é a suspensão da produção de estrogênio que explica a ocorrência de um tão amplo leque de mutações. “Trata-se de uma substância que está em nós desde o fio do cabelo até a unha do pé, passando por todos os órgãos”, resume Adriana. Ela adverte que muitas pacientes chegam ao consultório prontas para lutar contra um processo fisiológico absolutamente natural. “São queixas de ordem cultural. A impressão que fica é a de que no Brasil é proibido, para as mulheres, envelhecer. Isso faz com que elas fiquem escravizadas por conta dessa eterna necessidade de ser jovem, de ter a beleza típica da juventude”, critica, lembrando que boa parte dessa cobrança está calcada em uma visão do corpo feminino não como sujeito de si, mas como objeto de desejo, algo que vai ser consumido e servir ao prazer do outro. “Se a mulher chega muito desassossegada, procuramos acalmá-la, muitas vezes recomendando acompanhamento psicológico para que se entenda com seus fantasmas”, considera.

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Contudo, a ginecologista reconhece que, em alguns casos, pode-se optar por tratamentos que minimizem os impactos provenientes dessa transformação fisiológica. “Quando conseguimos estabelecer um diálogo mais equilibrado, podemos indicar alguns procedimentos”, diz. Adriana Guimarães salienta que atividades físicas e uma alimentação balanceada são fundamentais para diminuir os impactos do envelhecimento para a saúde. “Algumas pacientes vão demandar reposição hormonal, o que deve ser avaliado individualmente. Outros fenômenos, como o ressecamento lacrimal, devem ser observados por um especialista”, conclui.

De maneira geral, em relação à sexualidade, “aquelas que ficam em paz com esse processo conseguem ter uma vida plena, que não segue o mesmo ritmo de quando tinham 30 anos, por exemplo. E tudo fica melhor se o conjunto que está nessa relação estiver alinhado”, observa Adriana. 

Dermatologista aconselha que se tenha mais atenção à pele

A dermatologista Michelle Diniz, preceptora do Ambulatório de Psoríase e Imunobiológicos da Santa Casa e professora na Faculdade de Ciências Médicas, explica que as células produtoras de colágeno são ativadas por diversas substâncias, entre elas o estrogênio, que vai deixando de circular no corpo das mulheres com o climatério, principalmente depois da menopausa. “Estudos indicam que, já nos primeiros cinco anos desse processo, perde-se 30% do colágeno. A consequência é que a pele vai se tornar mais flácida, favorecendo o surgimento de rugas. Além disso, a cicatrização torna-se mais deficiente, e a cútis perde oleosidade, ficando ressecada mais facilmente”, expõe. A estrutura capilar também é impactada. “Os cabelos, em geral, tornam-se menos densos e mais frágeis, e as unhas ficam mais quebradiças”, diz.

Na mesma linha do que aponta a ginecologista Adriana Guimarães, Michelle reforça que não é possível anular um processo fisiológico natural. Ela ainda lembra que, com o aumento da expectativa de vida, as pessoas terão que conviver com os efeitos da interrupção da produção hormonal por mais tempo. “Vale, portanto, adotar uma atitude de autocuidado mais efetiva”, sugere.

Hábitos saudáveis. Entre seus conselhos, destaca a importância de se evitar a exposição solar excessiva, que causa danos à pele de forma ainda mais acentuada nessa fase da vida. A dermatologista também fala sobre a importância de se cultivarem hábitos saudáveis, evitando o sedentarismo, a má alimentação, o abuso do álcool e o tabagismo. Procedimentos estéticos agressivos para o cabelo, como o alisamento, também não são recomendados, pois os fios tendem a ficar mais frágeis e podem não resistir a essas intervenções.

Quanto à pele, o uso de cremes hidratantes indicados para a idade da pessoa é fundamental, evitando o ressecamento. Filtro solar é outro item indispensável. E se a paciente deseja realizar tratamentos estéticos, pode-se apostar em reposição de colágeno por via injetável ou oral, a depender de cada caso, além de outras operações conhecidas, como a aplicação da toxina botulínica, o botox, usado para aliviar linhas de expressão e rugas.

Espinhas e pelos faciais. A especialista adiciona que, como outro efeito do climatério, pode-se perceber o surgimento de acne e pelos em algumas regiões do corpo, como no queixo. O fenômeno ocorre devido ao aumento proporcional dos hormônios masculinos no corpo, já que houve uma paralisação da produção dos femininos. Em situações assim, opta-se geralmente pela indicação de medicamentos antiandrogênicos (também conhecidos como “bloqueadores de testosterona”), além do uso de pomadas e géis específicos. 

Síndrome do olho seco é mais prevalente após a menopausa

Diretor do Instituto de Olhos Minas Gerais (IOMG), o oftalmologista Leonardo Gontijo explica que a síndrome do olho seco, caracterizada pela produção de lágrimas de baixa qualidade, que não fornecem lubrificação suficiente para o órgão, é mais prevalente em mulheres que já passaram pela menopausa, pois a queda da produção hormonal afeta o funcionamento das glândulas lacrimais. As estimativas dão conta de que mais de 50% delas sofrem com o distúrbio, informa o especialista, pontuando que esse número deve se ampliar por conta do uso excessivo de telas.

“Em geral, o fenômeno acontece quando há deficiência lipídica, faltando óleo na lágrima, o que faz com que ela seque muito rapidamente. Em alguns casos, temos a deficiência aquosa, em que há problema na glândula que produz água”, detalha. Gontijo sinaliza que, até pouco tempo atrás, o tratamento se resumia à adição de lágrima artificial. Isto é, recomendava-se que, de tempos em tempos, o paciente pingasse colírio nos olhos. Agora, no entanto, há outros tratamentos disponíveis no mercado. 

Novo tratamento. “Surgiu há três anos, e já foi aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o tratamento de luz pulsada intensa regulada, que, por meio forte feixe luminoso que atinge os terminais nervosos em volta dos olhos, ativa as glândulas responsáveis pela oleosidade das lágrimas”, explica, completando que três sessões costumam ser suficientes para que os resultados alcançados sejam satisfatórios.

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