Nas férias, nada de ônibus cheio e pontos turísticos tradicionais: 53% dos viajantes se mostram dispostos a trocar o destino por uma alternativa menos conhecida, mas com um menor impacto ambiental, conforme pesquisa de intenção realizada pela Booking, com 22 mil pessoas de 29 mercados, incluindo o Brasil.
O contato com o meio ambiente sempre foi a principal preocupação da advogada Emely Novaes, 35, antes de escolher seus destinos de férias. “Já deixei de viajar para lugares que foram degradando o meio ambiente para enriquecer com o turismo desenfreado”, diz.
A turismóloga Poliana Rezende, que possui uma empresa em Carrancas, no Campo das Vertentes, em Minas Gerais, conta que, nos últimos cinco anos, a busca pela região – com mais de 80 cachoeiras – fez as ofertas na cidade aumentarem. “São mais de 30 meios de hospedagens”, diz.
Nesse sentido, alternativas muito além do ecoturismo, que propõem experiências personalizadas e próximas de comunidades locais, estão se tornando também uma forte tendência. Cerca de 74% das pessoas gostariam de ter acesso a um serviço (app ou site) que recomendasse destinos onde o turismo poderia impactar a comunidade local de forma positiva, segundo a pesquisa de intenção.
Prestes a embarcar para a Amazônia, a agente de turismo Nathália Segato, conta que ficará hospedada em uma comunidade ribeirinha indígena. “O turismo de massa coloca 1 milhão de pessoas no barco, elas conhecem a comunidade e tiram fotos de um jeito artificial”, explica.
Para o norte-americano especialista em desenvolvimento turístico Doug Lansky, visitantes que conhecem alguma cidade pela primeira vez tendem a ser menos abertos a sugestões para experimentar novos lugares e geralmente preferem passeios tradicionais. Porém, ele afirma que, pensando no longo prazo, “lugares que evitam a superlotação e protegem sua natureza sobreviverão muito melhor”.
Comunidades locais hospedam turistas. A ideia para a Braziliando surgiu quando Ana Taranto viajou com a mãe para a Amazônia de cruzeiro. Mesmo no meio da natureza, ela se sentiu distante das comunidades locais e decidiu investir no turismo de base comunitária – forma de passeio que propõe colocar as atividades turísticas nas mãos da comunidade local.
Em vez de se hospedar em hotéis, quem viaja com a Braziliando fica na casa de uma família de comunidade ribeirinha, onde são comportados no máximo quatro turistas.
A comunidade desempenha o papel de “guia”. “São os moradores que fazem as atividades culturais, trilhas, dão monitoria de artesanato, tudo o que é parte do dia a dia deles. Assim, a gente gera renda para a comunidade”, diz Taranto. Segundo ela, parte do pagamento que a agência recebe (entre R$ 1.900 e R$ 2.600) é repassada para um caixa comunitário, além da remuneração para cada ribeirinho que desenvolve as atividades.
A agência Vivejar segue um modelo parecido. Ela oferece passeios para destinos como Alter do Chão (no Pará), Morro da Babilônia (no Rio de Janeiro) e Vale do Jequitinhonha (em Minas Gerais). Marianne Costa, cofundadora da agência, estima que entre 30% e 40% do investimento inicial fique na comunidade. A empresa prioriza o trabalho com mulheres, como as artesãs do Jequitinhonha.