Diante de uma repercussão nacional e internacional negativa para a imagem do governo em ano eleitoral, o presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmou, pela primeira vez, que torce para que o jornalista britânico Dom Phillips e o indigenista brasileiro Bruno Pereira sejam encontrados com vida. 

"Desde o último domingo, quando tivemos a informação que dois cidadãos, um britânico, Dom Phillips, e um brasileiro, Bruno Araújo, desapareceram na região do Vale do Javari, desde o primeiro momento, naquele mesmo domingo, as nossas Forças Armadas e a Polícia Federal têm se destacado na busca incansável da localização dessas pessoas. Pedimos a Deus que sejam encontrados com vida", afirmou o presidente, no discurso transmitido na 9ª Cúpula das Américas, em Los Angeles, nos Estados Unidos.

Mas ao contrário do que Bolsonaro disse à comunidade internacional, as buscas feitas pelas Forças Armadas e pela Polícia Federal não começaram no domingo (5), dia em que circularam as primeiras notificações do desaparecimento da dupla.

Na segunda-feira (6), foi montada uma força-tarefa de buscas pelo próprio governo do Amazonas, com as polícias civil e militar. O grupo também contou com o apoio de voluntários, a maioria indígenas que conhecem mais a região.

Sem dar detalhes de quando as buscas de fato começaram, o ministro da Defesa Paulo Sérgio Nogueira declarou, na quarta-feira (8), que ordenou a militares que se deslocassem para a região onde estavam os desaparecidos "assim que foi informado". 

"A gente lamenta o incidente acontecido, não temos maiores detalhes, mas tão logo a notícia surgiu, imediatamente, eu tomei ciência, passei uma mensagem nos grupos de comandantes de Força, do que tinha acontecido e digo: imediatamente, o que tiverem por perto, já coloquem à disposição”, disse, em audiência nas Comissões de Fiscalização Financeira e Controle e de Seguridade Social da Câmara dos Deputados.

Por sua vez, o ministro da Justiça Anderson Torres determinou a ida da Força Nacional para reforçar as buscas somente nesta sexta-feira (10). 

Na primeira vez que se pronunciou sobre o caso, em entrevista ao SBT na última terça-feira (7), Bolsonaro afirmou duas vezes que "tudo pode acontecer" nessa região, classificada por ele como "selvagem", e criticou o que chamou de "aventura" da dupla.

"Realmente, duas pessoas apenas num barco, numa região daquela completamente selvagem é uma aventura que não é recomendada que se faça. Tudo pode acontecer. Pode ser acidente, pode ser que tenham sido executados", afirmou.

ONU critica governo federal pela falta de informações sobre o paradeiro da dupla

A Organização das Nações Unidas (ONU) publicou uma nota nesta sexta-feira com duras críticas ao governo brasileiro por causa da falta de informações sobre o paradeiro de Bruno Araújo Pereira e Dom Phillips.

Para a ONU, a reação do governo brasileiro tem sido “extremamente lenta”.A organização cobrou que as autoridades “redobrem esforços” para as operações de busca pela dupla no Vale do Javari, que, como lembrou a ONU, é o segundo maior território indígena do Brasil. 

“Exortamos as autoridades brasileiras a redobrar seus esforços para encontrar Phillips e Pereira, com o tempo essencial, tendo em vista os reais riscos aos seus direitos à vida e à segurança. Por isso, é crucial que as autoridades dos níveis federal e local reajam de forma robusta e rápida, inclusive implantando plenamente os meios disponíveis e os recursos especializados necessários para pesquisar efetivamente sobre a área remota em questão”, ressalta a ONU.

A nota destaca ainda que “Phillips e Pereira têm desempenhado papéis importantes na conscientização e defesa dos direitos humanos dos povos indígenas da região, inclusive por meio do monitoramento e denúncia de atividades ilegais no Vale do Javari”.

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