Entidades divulgaram notas de repúdio às agressões sofridas por jornalistas durante a viagem do presidente Jair Bolsonaro a Roma, na Itália, para participação na cúpula do G20, grupo que reúne as 20 maiores economias do mundo.
No domingo (31), em uma caminhada improvisada de Bolsonaro perto da embaixada brasileira após falar com apoiadores, ao menos três profissionais de imprensa credenciados e identificados foram atacados, segundo os relatos, com socos e empurrões. As agressões teriam sido cometidas por parte da equipe que fazia a segurança do presidente, que reunia policiais tanto brasileiros quanto italianos.
O Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), por meio da Comissão de Liberdade e Expressão, afirmou ser “lamentável que incidentes como esse ocorram, refletindo uma postura frequente de desrespeito ao trabalho dos profissionais de imprensa”. O posicionamento é assinado pelo presidente da OAB, Felipe Santa Cruz, e pelo presidente da Comissão, Pierpaolo Bottini.
Para FENAJ, presidente ajuda a institucionalizar violência contra jornalistas
A Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ), maior representação da categoria no Brasil, condenou a ação. Disse que o comportamento de Bolsonaro “caracteriza uma institucionalização da violência contra jornalistas, que significa um atentado à liberdade de imprensa e, portanto, à democracia”. Apontou também que, “ao agredir jornalistas e ao permitir que seus auxiliares também o façam, o presidente comete um crime e deve ser responsabilizado por isso”.
A FENAJ lembrou, ainda, que nesta terça-feira (2) é celebrado mundialmente o Dia de Combate à Impunidade dos Crimes contra Jornalistas. “A FENAJ espera que à luz da importante efeméride, todos os responsáveis por essas agressões sejam identificados e punidos. A impunidade é combustível para a violência”, destacou.
ABI relata que Bolsonaro é rejeitado por governantes de outros países
Em um tom mais duro, o presidente da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), Paulo Jeronimo, escreveu uma carta aberta a Bolsonaro. Ele disse que, “mais uma vez”, o presidente “envergonha o Brasil” e citou que o chefe do Executivo é “repudiado por governantes do mundo inteiro”.
“Na reunião do G20 neste fim de semana, mais uma vez, o senhor foi obrigado a ficar pelos cantos, como aqueles convidados indesejados a quem ninguém dá atenção. Como reação, age como um troglodita, hostilizando e estimulando agressões a jornalistas que lhe fazem perguntas corriqueiras”, frisou, acrescentando que a atitude “é de dar vergonha”.
Jeronimo detalhou o constrangimento ao afirmar que Bolsonaro foi evitado pelo primeiro-ministro italiano, Mario Draghi, que cumprimentou os chefes de Estado e de governo e que, quase como um “penetra na festa”, o brasileiro sentiu a “rejeição generalizada” ao preferir “não aparecer para a foto oficial com os estadistas do mundo inteiro”.
O presidente da ABI lembrou que Bolsonaro não se sentiu à vontade para participar de um passeio organizado pelo governo italiano em tradicional ponto turístico italiano e acusou que o presidente e os outros integrantes da comitiva brasileira foram incapazes de pedir desculpas aos jornalistas que estavam a trabalho. “Ao contrário, continuaram hostilizando os jornalistas brasileiros”, ressalta.
“A ABI mais uma vez faz o registro: com o seu comportamento avesso à democracia e com ataques constantes à imprensa e ao trabalho dos jornalistas, o senhor estimula essas agressões. Assim, torna-se também responsável por elas. E, como numa bola de neve, elas só aumentam seu isolamento e o repúdio que o senhor recebe da comunidade internacional”, afirmou.
“Pior, o isolamento não é só seu. Atinge e envergonha o país que o senhor representa. O senhor está tornando o Brasil um pária na comunidade internacional”, concluiu na mensagem direcionada a Bolsonaro, pedindo, ainda, que o presidente “tenha compostura”.
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