Política externa

Macron critica acordo Mercosul-UE e deve debater tema com Lula em Brasília

Após se reunir com empresários e ministros brasileiros em São Paulo, Macron, disse ser contra o acordo que está sendo costurado entre os países do Mercosul e a União Europeia

Por Renato Alves
Publicado em 28 de março de 2024 | 08:29
 
 
Macron participou hoje do Fórum Econômico Brasil-França, que está sendo realizado na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), na capital paulista Foto: Ludovic Marin/AFP

Os presidentes da França, Emmanuel Macron, e do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, devem discutir nesta quinta-feira (28), em Brasília, o acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia. Enquanto o brasileiro tem pressa em fechar a parceria, o francês é o maior opositor. 

Nesta quarta-feira (27), após se reunir com empresários e ministros brasileiros em São Paulo, Macron afirmou ser contra o acordo que está sendo costurado entre os países do Mercosul e a União Europeia.

Segundo ele, o atual acordo está sendo negociado há mais de 20 anos e não foi atualizado, prevendo, por exemplo, temas como o clima. Para ele, o texto “precisa ser renegociado do zero”.

“O Mercosul é um péssimo acordo como ele está sendo negociado agora. Esse acordo foi negociado há 20 anos. Eu não defendo esse acordo. Não é o que queremos”, disse. “Deixemos de lado um acordo de 20 anos atrás e construamos um novo acordo, mais responsável, prevendo questões como o clima e a reciprocidade”, completou.

Macron participou do Fórum Econômico Brasil-França, que está sendo realizado na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), na capital paulista. Este foi o primeiro dos compromissos de Macron em São Paulo, após ter participado, na manhã de quarta-feira, do lançamento de um submarino em Itaguaí, no Rio de Janeiro. 

Alckmin saiu em defesa do acordo

No mesmo evento em São Paulo, antes da fala de Macron, o vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, havia defendido o acordo entre o Mercosul e a União Europeia. “O Mercosul ampliou mais um país este ano, que é a Bolívia. Fizemos um acordo com Cingapura e houve conversas com a União Europeia. O presidente Lula sempre fala que tem que haver reciprocidade. É o ganha-ganha. Nós conquistamos mercado, nós abrimos o mercado”, disse Alckmin.

Mais cedo, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, também havia defendido o acordo, dizendo que o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva “vai continuar insistindo nele”. Haddad chegou a comparar um possível acordo entre o Mercosul e a União Europeia com a aprovação da reforma tributária no Brasil. Segundo ele, o Brasil demorou 40 anos para aprovar a reforma tributária que “colocou um ponto final no caos tributário”.

“Não devemos desistir desse acordo. Se foi possível aprovar a reforma tributária depois de 40 anos, por que não, depois de 20 (anos) aprovar um bom acordo União Europeia e o Mercosul”, disse Haddad ao discursar durante o evento. 

Macron tem extensa agenda em Brasília nesta quinta-feira

O presidente francês desembarcou terça-feira (26) no Brasil, vindo da Guiana Francesa. A viagem começou em Belém (PA), onde foi recebido por Lula e viajou de barco até uma ilha para um encontro com indígenas. Macron condecorou o cacique Raoni com a maior honraria da França. 

Do Pará, Macron seguiu para o Rio de Janeiro no mesmo dia e, depois, foi para São Paulo. Encerra a passagem pelo Brasil nesta quinta-feira, em Brasília. Essa é a primeira viagem bilateral de Macron a um país latino-americano (ele esteve em 2017 na Guiana Francesa, um departamento ultramarino, e em 2018 em Buenos Aires, para a Cúpula do G-20). O último presidente francês a pisar no Brasil foi François Hollande, em 2016, para a Olimpíada do Rio. 

Na capital federal, Macron será recebido com honras de chefe de Estado e se reunirá com Lula no Palácio do Planalto. O encontro terá ênfase em temas bilaterais e globais, além de culturais – já que 2025 marca os 200 anos de relações diplomáticas entre os dois países. 

Temas como reforma das instituições multilaterais, incluindo assento permanente do Brasil no Conselho de Segurança das Nações Unidas, além das guerras na Ucrânia e em Gaza devem ser abordados por ambos. A situação política na Venezuela e a crise humanitária no Haiti são outros assuntos que deverão ser tratados.

Cerca de 30 atos poderão ser assinados por Lula e Macron, em diversas áreas. Após essa etapa da reunião, os dois presidentes farão uma declaração à imprensa. Em seguida, participam de almoço no Itamaraty. Emmanuel Macron ainda deverá ser recebido no Congresso Nacional pelos presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG) e da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL).