O secretário especial de Cultura, Mario Frias, que sempre atacou a “mamata” da Lei Rouanet, gastou R$ 78 mil dos cofres públicos para fazer uma viagem de última hora até Nova York e conhecer a ideia de um lutador aposentado de jiu jitsu para a produção de um filme.
A viagem aconteceu entre os dias 14 e 19 de dezembro. Frias voou em classe executiva. Só as passagens aéreas custaram R$ 26 mil. O secretário de Cultura recebeu R$ 12,8 mil em diárias.
A viagem de Frias e parte dos seus gastos foram divulgados pela coluna de Lauro Jardim, do jornal O Globo, nesta quinta-feira (10). Segundo o jornalista, a viagem teve caráter “urgente”, para discutir assuntos culturais com o lutador de jiu jitsu Renzo Gracie, apoiador do presidente Jair Bolsonaro.
Frias “foi convidado pelo senhor Renzo Gracie para apresentar um projeto cultural envolvendo produção audiovisual, cultura e esporte”, segundo consta no Portal da Transparência em seu pedido de diárias.
Já segundo a Folha de S. Paulo, Mario Frias foi para os Estados Unidos acompanhado de seu secretário-adjunto, Hélio Ferraz de Oliveira, que gastou outros R$ 39 mil. Ao todo, a viagem dos dois saiu por R$ 78 mil.
Renzo Gracie, estrela da luta internacional da família de mesmo nome, tem uma escola de jiu-jítsu em Nova York onde já treinaram celebridades como o ator Keanu Reeves e o cineasta Guy Ritchie, ex-marido de Madonna.
Gracie acaba de ser biografado pelo ex-secretário federal da Cultura, Roberto Alvim, demitido por fazer um vídeo com em que faz apologia do nazismo. "Renzo Gracie: Uma Vida Heróica" será lançado no próximo dia 14 pela editora Auster.
Frias cortou valor de cachês da Lei Rouanet
Na última terça-feira (8) a Secretaria Especial de Cultura publicou uma instrução normativa que institui uma série de novas regras para a execução da Lei Rouanet, de incentivo cultural. Entre os destaques está a redução de 93,4% no cachê de artistas que se apresentam sozinhos e o corte no valor que pode ser arrecadado por empresas.
O cachê máximo para artista individual era de R$ 45 mil. Agora, o teto do valor é de R$ 3 mil. Maestros podem receber até R$ 15 mil, enquanto os músicos da orquestra teriam remuneração de até R$ 3,5 mil.
Com as modificações, o valor máximo permitido por projeto para captação foi reduzido de R$ 10 milhões para R$ 6 milhões, no caso de empresas. Ações para restauração de patrimônio tombado são exceções.
Os valores máximos para projetos de audiovisual, como o do bolsonarista Renzo Gracie, foram mantidos. A maior quantia é de R$ 600 mil, para médias metragens. A menor é de R$ 15 mil, para episódios de websérie.
A Lei Rouanet permite que autores culturais busquem financiamento privado. As empresas patrocinadoras podem abater parte do valor do Imposto de Renda.
Nas redes sociais, Mario Frias comemorou as mudanças. Disse ter tornado a legislação “mais justa e popular”, ao publicar foto ao lado do presidente Jair Bolsonaro (PL).
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