BRASÍLIA – Militares do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República colocaram grades em frente ao Palácio do Planalto na manhã desta terça-feira (5), enquanto policiais militares reforçaram a segurança em volta do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Palácio Itamaraty.

Os prédios são vizinhos, ficam no entorno da Praça dos Três Poderes. As medidas foram tomadas um dia após o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes decretar a prisão domiciliar do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Na noite de segunda-feira (4), após a divulgação da medida, apoiadores do ex-presidente convocarem um “buzinaço” em frente ao STF. Eles se reuniram em frente à Torre de TV, que fica no canteiro central do Eixo Monumental, a mesma avenida que leva à Esplanada dos Ministérios.

No entanto, com a notícia da carreta, a Polícia Militar fechou a Esplanada dos Ministérios. Com isso, o comboio com cerca de 20 carros com apoiadores de Bolsonaro seguiu para o condomínio onde o  ex-presidente mora e cumpre a prisão domiciliar. Lá ficaram até o fim da noite.

O acesso à Esplanada dos Ministérios e à Praça dos Três Poderes foi liberado na manhã desta terça-feira, onde três viaturas da PM ficaram estacionadas em frente ao Itamaraty, durante o encontro do Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável, o Conselhão. 

A reunião com empresários e ministros começou por volta das 10h, com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Não houve qualquer incidente.

Bolsonaristas querem montar acampamento

Apoiadores de Bolsonaro organizam um acampamento em frente à residência oficial do Senado, no Lago Sul, em Brasília, para pressionar o presidente do Congresso, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), por impeachment de Alexandre de Moraes.

A intenção foi externada por um grupo de apoiadores de Bolsonaro que foram ao condomínio Solar Brasília, onde ele mora, na noite de segunda-feira. 

Para Moraes, o ex-presidente violou a medida cautelar que o proibia de usar as redes sociais, inclusive por meio de terceiros, ao participar remotamente de manifestações contra o STF no último domingo (3/8). 

À frente do movimento por pressão à Alcolumbre está Sebastião Coelho, desembargador aposentado do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDTF). 

Na noite de segunda-feira, em frente ao condomínio de Bolsonaro, ele convocou manifestantes a acamparem em frente à residência oficial do Senado.

“Vá para a porta de Davi Alcolumbre. Vá para a porta do Partido União Brasil, que já tem um povo acampado lá, na porta do Alcolumbre, até ele pautar o impeachment de Alexandre de Moraes”, disse Sebastião Coelho, com uso de um megafone, cercado por apoiadores de Bolsonaro. 

Coelho foi aplaudido por bolsonaristas, que prometeram seguir a sugestão dele. No entanto, até o fim da manhã desta terça-feira, não havia barracas em frente à residência oficial do Senado nem na sede do União Brasil.  

Coelho deve se filiar ao partido Novo para disputar mandato de senador pelo Distrito Federal. Haverá duas vagas em disputa em 2026. A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL) deve disputar uma delas, assim como o governador Ibaneis Rocha (MDB), que busca apoio de Jair Bolsonaro.

Vizinhos de Bolsonaro temem acampamento

Como mostrou O TEMPO nesta terça-feira, os moradores do Solar de Brasília estão preocupados com o possível acampamento de apoiadores do ex-presidente em frente ao condomínio onde ele mora e cumpre prisão domiciliar.  

Em grupo de Whatsapp dos moradores, eles trocaram mensagens após a decretação da prisão domiciliar do vizinho reclamando do aumento de pessoas em frente à entrada do condomínio com casas de alto padrão, o que provocou engarrafamento. A equipe de O TEMPO em Brasília teve acesso ao conteúdo.

O Solar de Brasília fica na região administrativa do Jardim Botânico, área nobre de Brasília tomada por dezenas de condomínios horizontais. A casa onde Bolsonaro mora é alugada, paga pelo PL, partido que tem Bolsonaro como presidente de honra. Ela fica a cerca de  10km (20 minutos de carro, dependendo do fluxo) do Congresso.

Bolsonaro e família chegaram a morar em outra casa no mesmo condomínio. Em novembro de 2024, após reclamar do pouco espaço e da falta de privacidade devido à curiosidade de vizinhos, o ex-presidente mudou para a casa atual, onde a PF cumpriu a ordem judicial de Moraes na segunda-feira.

Moraes diz que Bolsonaro violou medidas cautelares

Para Alexandre de Moraes, Jair Bolsonaro violou a medida cautelar que o proibia de usar as redes sociais, inclusive por meio de terceiros, ao participar remotamente de manifestações contra o STF no último domingo. Apoiadores foram às ruas em diferentes cidades.

Ele discursou em Copacabana pelo celular do filho Flávio Bolsonaro e teve a imagem pelo celular exibida também em São Paulo pelo deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG), além da postagem do vereador do Rio de Janeiro Carlos Bolsonaro (PL), outro filho do ex-presidente.

O ministro do STF apontou descumprimento deliberado por Bolsonaro das medidas restritivas, a última vez durante os atos realizados no domingo. Além da prisão domiciliar, Moraes determinou a apreensão dos celulares de posse do ex-presidente, que é réu em ação penal acusado de liderar um plano de golpe de Estado no após a eleição de 2022. 

Na decisão o ministro afirmou que “agindo ilicitamente, o réu Jair Messias Bolsonaro se dirigiu aos manifestantes reunidos em Copacabana, no Rio de Janeiro, produzindo dolosa e conscientemente material pré-fabricado para seus partidários continuarem a tentar coagir o Supremo Tribunal Federal e obstruir a Justiça, tanto que, o telefonema com seu filho, Flávio Nantes Bolsonaro, foi publicado na plataforma Instagram”.

O ministro também escreveu em sua decisão que “o réu Jair Messias Bolsonaro realizou ligação telefônica, por chamada de vídeo, com seu apoiador político e deputado federal Nikolas Ferreira, demonstrando o desrespeito a decisão proferida por esta Suprema Corte, em razão do claro objetivo de endossar o tema da manifestação de ataques ao STF”

Para o ministro, houve uma “atuação coordenada dos filhos de Jair Messias Bolsonaro a partir de mensagens de ataques ao Supremo Tribunal Federal, com o evidente intuito de interferir no julgamento da AP 2.668/DF (ação penal do golpe)”.

Os advogados do ex-presidente criticaram a decretação da prisão domiciliar. Celso Vilardi, Daniel Tesser e Paulo Cunha Bueno assinam nota contestando que Bolsonaro descumpriu as medidas cautelares impostas a ele pela Corte e prometem recorrer da prisão domiciliar.

“A defesa foi surpreendida com a decretação de prisão domiciliar, tendo em vista que o ex-presidente Jair Bolsonaro não descumpriu qualquer medida”, afirmam. Eles argumentam que todas as determinações foram seguidas à risca e pontuam que a participação de Bolsonaro nos atos de domingo por ligação de vídeo não desrespeitam as restrições. 

Oposição prega impeachment de Moraes e anistia

Nesta terça-feira, o líder do PL na Câmara dos Deputados, Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), afirmou que a oposição não vai deixar a Casa parlamentar reabrir seus trabalhos do segundo semestre “enquanto não houver um diálogo sério para pensar soluções para o Brasil”.

Ele se referiu ao “pacote da paz” que os aliados de Jair Bolsonaro querem emplacar com o impeachment de Alexandre de Moraes e outras medidas, dentre elas a anistia aos condenados ou que ainda estão sendo julgados por tentativa de golpe de Estado, como o ex-presidente.