O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, divulgou no domingo (17) um vídeo em suas redes sociais onde discursa, sem máscara, defendendo o que ele chama de "fim do caráter pandêmico da Covid-19" e tratando a pandemia como página virada.
"Nós temos a sensação do dever cumprido", disse o ministro. "Queremos ser livres de novo. Nós queremos em breve retirar essas máscaras, poder nos abraçar novamente, nos reunir com as nossas famílias nas festividades do fim do ano. E nós vamos fazer isso, porque somos mais fortes do que esse vírus", declarou.
Em outros episódios, no início de outubro Queiroga comparou a proteção das máscaras ao uso de preservativos para evitar doenças sexualmente transmissíveis. "Preservativos diminuem doenças sexualmente transmissíveis, mas vou fazer uma lei para obrigar as pessoas a usá-los? Imagina", disse em evento no Piauí.
No mesmo dia, quando questionado sobre a marca de 600 mil vítimas da Covid-19 no país, o ministro relativizou e comparou com outras taxas de mortes registradas anualmente por diferentes enfermidades.
Outro ministro
Aderindo ao discurso do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), Queiroga mudou o tom adotado em março deste ano, quando assumiu o ministério que era comandado pelo general Eduardo Pazuello.
Exatos três dias depois de assumir a Saúde, o médico, que costumava aparecer sempre de máscara nos eventos e discursos oficiais, apelou à população para usar o item de proteção contra o coronavírus.
“Na época da Copa do Mundo, a nação se une, se chama ‘pátria de chuteira’. Agora é ‘pátria de máscara’. É um pedido que faço a cada um dos brasileiros: usem a máscara”, disse na época.
Agora, é comum ver o ministro sem a proteção, mesmo após ter se infectado pelo vírus durante viagem aos Estados Unidos para acompanhar Bolsonaro na Assembleia-Geral da ONU.
Sem autonomia
No início do vídeo divulgado em seu perfil do Instagram, Queiroga lembra que o presidente escolheu um médico para cumprir a missão de conduzir a pandemia. "O presidente Bolsonaro sabe bem da missão do médico, é por isso que ele sempre defende a autonomia do médico", disse.
A mudança no comportamento e discurso do médico acompanha a percepção de que ele não tem autonomia para atuar na Saúde, uma vez que foi sistematicamente cobrado pelo presidente a adotar postura diferente daquela recomendada pelos órgãos de saúde e comunidade científica, tanto nacionais quanto internacionais.
Até o momento, não há consenso científico sobre a liberação do uso de máscaras e decretação do fim da pandemia. O que cientistas e epidemiologistas têm recomendado é flexibilização das medidas de segurança somente quando mais de 70% da população estiver totalmente imunizada.
Segundo o último levantamento do consórcio de veículos da imprensa, divulgados às 20h do último domingo (17), há 104.352.811 pessoas totalmente imunizadas, o que representa 48,92% da população brasileira.
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