Basílica de Trindade

STJ julga recurso do desembargador acusado de receber propina do padre Robson

Investigadores flagraram conversa entre o padre e advogados sobre o suposto pagamento de propina a desembargadores para receber uma decisão favorável em um processo envolvendo a compra de uma fazenda

Por Renato Alves
Publicado em 29 de novembro de 2021 | 14:36
 
 
Padre Robson de Oliveira reza no Santuário Divino Pai Eterno, em Trindade (GO) Foto: Divulgação/Afipe

A Corte Especial do Superior Tribunal de Justiça (STJ) julga na quarta-feira (1º) o recurso apresentado pelo desembargador Orloff Neves Rocha, do Tribunal de Justiça de Goiás (TJGO), sobre as denúncias de pagamento de propina a desembargadores em esquema envolvendo o padre Robson de Oliveira Pereira, ex-reitor do Santuário do Divino Pai Eterno, em Trindade (GO). 

Orloff Rocha é um dos investigados.Os outros são a desembargadora Amélia Martins de Araújo e o juiz substituto em segundo grau Roberto Horácio de Rezende. Esses dois últimos pediram a abertura sindicância no TJGO e colocaram à disposição da Justiça o sigilo fiscal e bancário.

O STJ recebeu, há duas semanas, um pedido de prisão do padre Robson, conhecido como a maior figura pop da Igreja Católica em Goiás e uma das principais do Brasil. O caso está sob responsabilidade do ministro-relator Benedito Gonçalves. O pedido partiu da Polícia Federal e foi enviado à Corte em 17 de novembro. 

PF intercetou conversa sobre propina

A motivação do pedido de prisão foi um áudio anexado ao processo que indicaria compra de sentença favorável ao religioso na Justiça goiana. 

Por meio de interceptação autorizada pela Justiça, os investigadores flagraram uma conversa entre o padre e dois advogados sobre o suposto pagamento de propina no valor de R$ 1,5 milhão a desembargadores para receber uma decisão favorável em um processo envolvendo a compra de uma fazenda pela ssociação Filhos do Pai Eterno (Afipe), que administra o Santuário de Trindade.

Na conversa interceptada, o pároco concorda com a proposta do advogado para pagamento de propina, que eles chamam de “apoio”, para conseguirem decisão favorável, de acordo com os investigadores.

“Preciso ter elemento de negociação para eu, eventualmente, subcontratar apoios no Tribunal de Justiça. É assim que funciona. Eventualmente, você tem que conversar com um desembargador, identificar quais são os sub-apoios, e isso eles olham muito, o tipo de contratação que você tem”, disse o advogado.

O advogado segue com a explicação. “A gente apalavrou que colocaríamos (sic) R$ 1,5 milhão, tá? E pagos na decisão da segunda instância de duas formas: se a gente ganhasse tudo, anulasse tudo, isso em julho de 2019, pagava R$ 1,5 milhão. Se a gente anulasse a sentença e voltasse para que o julgamento fosse com todos os outros processos, pagava R$ 250 mil, só”, continuou Pinho.

A PF cita ainda que, durante a operação Vendilhões, desencadeada em agosto de 2020, foi apreendido um bilhete no carro do padre com a inscrição: “Desembargadores R$ 600 mil”. A anotação, segundo o documento, leva a crer que se trata do acerto aos desembargadores mencionado na reunião gravada entre o padre, o advogado e o ex-dirigente da Afipe.

Padre é acusado de desviar mais de R$ 100 milhões de doações

Padre Robson é acusado por supostamente ter desviado mais de R$ 100 milhões de doações. O dinheiro era para ter sido usado na construção da nova Basílica de Trindade, mas o religioso teria comprado fazenda, casa de praia e um avião de pequeno porte. 

As investigações começaram em 2019 e são conduzidas pelo Ministério Público de Goiás até hoje. O MP denunciou o padre à Justiça por organização criminosa, apropriação indébita, falsidade ideológica e lavagem de dinheiro doado por fiéis.

Padre Robson, que sempre negou qualquer irregularidade, está afastado das atividades e proibido de se manifestar por decreto canônico. Ele tem procurado se manter no anonimato desde que o escândalo veio à tona. A última aparição pública dele ocorreu em fevereiro, durante assembleia on-line dos redentoristas.

A defesa do padre diz que ele não cometeu qualquer irregularidade, mas não informa seu paradeiro. Investigadores temem que o religioso tenha deixado Goiás e até o país.

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