Eleições 2022

PL em Minas racha por apoio a Viana e Zema

Enquanto o diretório estadual havia preparado apoio a Romeu Zema, Carlos Viana chegou à legenda como pré-candidato de Jair Bolsonaro (PL)

Por Gabriel Ferreira Borges
Publicado em 07 de abril de 2022 | 15:13
 
 
O senador Carlos Viana (PL) anunciou a filiação ao lado do deputado federal Marcelo Álvaro Antônio (PL), pré-candidato ao Senado, e do presidente Jair Bolsonaro (PL) Foto: Reprodução/Redes sociais

A filiação do senador Carlos Viana ao PL para ser o pré-candidato do presidente Jair Bolsonaro (PL) ao governo de Minas Gerais rachou a legenda. Articulada em Brasília, a chegada de Viana já na condição de candidato atropelou o consenso firmado entre os liberais em Minas para apoiar a reeleição do governador Romeu Zema (Novo). Caso a indisposição entre Viana e parte do PL seja irreversível, o senador será candidato, mas com apenas metade da bancada como cabo eleitoral.

O único ponto pacífico entre os liberais é o apoio à reeleição de Bolsonaro. Conforme apurou O TEMPO, ao menos cinco dos nove deputados da bancada do PL na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) apoiariam, hoje, Zema.  Até o início da janela partidária, o partido tinha apenas dois parlamentares, Gustavo Santana e Léo Portela. Ambos já atuavam na base do governo. “O PL é um partido que já tem uma caminhada antiga, sólida com o governador Romeu Zema, e é da base do governador Romeu Zema, acredita no governador Romeu Zema”, lembra Portela.

De acordo com o deputado estadual, para que a pré-candidatura de Viana seja um projeto efetivo, “com participação ampla do PL em Minas”, precisa ser apreciado pelas bancadas estadual e federal. “Quem precisa procurar a bancada estadual para conversar é tanto o senador Carlos Viana quanto o deputado federal Marcelo Álvaro Antônio. Eles que precisam nos procurar para conversar sobre o projeto deles, porque são projetos deles. (...) Se não existir um projeto sério para Minas, a bancada finge que apoia e o candidato finge que acredita”, aponta Portela. Álvaro Antônio é pré-candidato ao Senado na chapa.

Outro remanescente do PL de antes da janela partidária, Santana, filho do presidente estadual do PL, José Santana, também está alinhado a Zema. Inclusive, o deputado acompanhou o governador em agenda nesta quinta-feira (7) aos municípios de Comercinho, Virgem da Lapa e Araçuaí, no Vale do Jequitinhonha. Em rápido contato com O TEMPO, ele confirmou o apoio ao governador. 

O 1º vice-presidente da ALMG, Antônio Carlos Arantes (PL), é outro deputado da bancada estadual próximo ao Palácio Tiradentes. “Super próximo”, como ressalta um interlocutor. Antes de migrar para o PL, Arantes estava no PSDB, que, assim como o PL, é da base do governo na ALMG. Questionado, o deputado pediu alguns dias de prazo para falar sobre o assunto a fim de “esperar a poeira baixar”. 

Os deputados Bartô e Coronel Henrique, recentemente filiados ao PL, também seriam inclinados a Zema. Embora tenha sido expulso do Novo e criticado o governador em algumas oportunidades, Bartô apareceu, na última segunda-feira (4), ao lado de Zema durante o lançamento do programa Pró-Vias. Já Coronel Henrique é o único parlamentar egresso das forças de Segurança Pública que não liderou a campanha da categoria no último mês. O TEMPO procurou tanto Bartô quanto Coronel Henrique, mas, até o fechamento deste texto, não foi respondido.

'Bênçãos de Bolsonaro'

Já a parte da bancada estadual mais afeita à candidatura de Viana é integralmente formada por parlamentares que se filiaram ao PL na esteira de Bolsonaro. A chegada do deputado Sargento Rodrigues, por exemplo, foi abonada pelo próprio presidente. De acordo com Rodrigues, ainda é cedo para discutir esse assunto. “As placas tectônicas não se acomodaram ainda. Não dá para fazer nenhum tipo de previsão”, afirma. “Agora, é óbvio, se o Viana é candidato a governador pelo PL, a lógica do apoio é a candidatura dele, até porque está vendo com as bênçãos do Bolsonaro.”

O raciocínio é o mesmo argumentado por Bruno Engler para declarar o apoio a Viana. “Se o presidente colocou a mão, ele entende que é o melhor caminho eleitoral para Minas. O presidente precisa de um palanque em Minas, que é o segundo colégio eleitoral do país. Até porque o governador Romeu Zema já afirmou várias vezes que o Novo tem pré-candidato à presidência”, aponta Engler, um dos deputados estaduais mais próximos a Bolsonaro.

A Delegada Sheila, por sua vez, afirma que é uma parlamentar partidária e, portanto, apoia o que é determinado pelo partido. “Sou uma deputada partidária, apoiadora do presidente Jair Bolsonaro desde a campanha para as eleições de 2018 e estou junta no projeto que for estabelecido pelo partido. Eu participo de um projeto macro e estou dentro”, pondera. Mas Sheila pontua que “ainda não conversei com o restante da bancada”.

Outro parlamentar do grupo é Coronel Sandro. Egresso do União Brasil como Sheila, Sandro foi um dos parlamentares líderes da campanha salarial da Segurança Pública cujo principal alvo foi Zema. No entanto, procurado por O TEMPO, Sandro ainda não respondeu. 

'Quero apoio, mas não vou obrigar ninguém'

Questionado, Viana afirma que Portela está "coberto de razão" ao cobrá-lo por apresentar um projeto às bancadas estadual e federal. "O processo de filiação ainda é muito recente, na última sexta (1º), e, naturalmente, ainda não foi possível que sentemos todos", justifica o senador. A respeito do racha, o pré-candidato afirma que está tranquilo. "Primeiro, eu fui convidado pelo presidente nacional do PL (Valdemar Costa Neto). Vamos conversar com os deputados, um por um. Eu quero o apoio dos deputados, mas não vou obrigar ninguém a me apoiar", ressalta Viana.

O pré-candidato lembra que Bolsonaro optou por uma candidatura própria apenas porque Zema não retribuiu aos acenos do presidente da República. "Até na sexta-feira passada, foram vários os momentos em que o presidente da República buscou o apoio do atual governador, mas não recebeu. O apoio ao governador existia até a possibilidade do apoio do governador ao presidente, mas agora não existe mais. Agora é outro momento. O partido vai ter candidatura própria. Vamos em frente, vamos corrigindo essas dificuldades com muita tranquilidade", diz.

O quadro desenhado em Minas é semelhante àquele de São Paulo. Lá, o PL está dividido entre o apoio às candidaturas do governador, Rodrigo Garcia (PSDB), e do ex-ministro da Infraestrutura Tarcísio Gomes de Freitas (Republicanos). Ao passo que Tarcísio é o candidato indicado por Bolsonaro, Rodrigo já aglutina o apoio de dissidentes liberais na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp).