O Uruguai, a democracia mais estável da América Latina, votará no domingo (27/10) para eleger o sucessor do presidente de centro-direita Luis Lacalle Pou, com a esquerda como favorita em uma corrida que parece encaminhada para o segundo turno.

O esquerdista Yamandú Orsi, professor de História de 57 anos, pupilo do ex-presidente José "Pepe" Mujica e candidato da oposição Frente Ampla, lidera as intenções de voto com 41%-47%, mas não obteria mais do que os 50% necessários para vencer no primeiro turno. 

Orsi aspira governar este país de 3,4 milhões de habitantes, predominantemente agrícola, com alta renda per capita e baixos níveis de pobreza e desigualdade em relação à região. 

Ele é seguido pelos candidatos dos principais partidos da coalizão liderada pelo presidente Lacalle Pou, que tem 47% de aprovação, mas não pode buscar a reeleição imediata segundo a Constituição. 

O candidato do Partido Nacional, Álvaro Delgado, veterinário de 55 anos que foi secretário da Presidência de Lacalle Pou, tem apoio de 20%-25%.

Com 15-16%, seu rival do também histórico Partido Colorado, Andrés Ojeda, de 40 anos, pode arrebatar o segundo lugar. 

Este jovem advogado midiático, que é comparado ao ultraliberal presidente argentino Javier Milei pela sua forma pouco tradicional de fazer política, apresenta-se como o rosto da renovação e tem ganhado força nas últimas semanas.

Mais de 2,7 milhões de uruguaios devem comparecer às urnas para eleger o presidente e o vice-presidente para o período 2025-2030, assim como as 30 cadeiras no Senado e 99 na Câmara dos Deputados.

Provável segundo turno no Uruguai

A tensão voltou-se em grande parte para as redes sociais, não imunes à onda de desinformação que afeta os processos eleitorais no mundo.

A equipe de verificação da reportagem registrou conteúdos com imagens que fingem ser da imprensa e termos como "fraude" ou "clonagem de envelopes" que visam desacreditar as eleições. 

Caso nenhum dos candidatos obtenha a maioria absoluta, haverá um segundo turno no dia 24 de novembro. 

Para a disputa final, tudo indica que Orsi enfrentará Delgado ou Ojeda, que se apoiarão e esperam contar com os votos dos parceiros menores do bloco governante: Cabildo Abierto (4%-2% nas pesquisas) e o Partido Independente (3%-1%). 

Os dois lados aspiram conquistar a maioria parlamentar em outubro, um sinal inequívoco, segundo os analistas, de alcançar a vitória em novembro.

Mudanças na economia uruguaia

Independente de quem vencer, não são esperadas grandes mudanças na política econômica.

Todos os candidatos apostam na aceleração do crescimento, desacelerado pela pandemia de covid-19 e por uma seca histórica, mas em recuperação: o FMI projeta uma expansão do PIB de 3,2% em 2024 e de 3% em 2025. O grande desafio é reduzir o déficit fiscal (-4,4 do PIB em agosto). 

Por conta disso, os observadores internacionais veem com preocupação uma vitória do plebiscito para modificar o sistema de seguridade social, promovido pela central sindical única Pit-Cnt, junto com setores da frente ampla como o Partido Comunista e o Partido Socialista. 

"O próximo governo herdará um espaço fiscal relativamente limitado", disse Yolanda Ngo, executiva da agência de classificação de risco Morningstar DBRS. 

"A questão-chave é se ele se concentrará em perseguir seus objetivos políticos de uma forma fiscalmente sustentável, como esperamos, ou se terá que se concentrar em conter as consequências de um plebiscito bem-sucedido sobre a seguridade social", acrescentou.

Todos os candidatos anunciaram que não votarão a favor desta emenda constitucional e as pesquisas projetam que será rejeitada.

(AFP)