A barreira comercial imposta pelo tarifaço do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que reduz o apelo para investimentos no Brasil ligados à exportação, além do aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) após decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, colocam em xeque as fusões e aquisições no Brasil. De acordo com o economista Adam Patterson, sócio da Redirection International, a ameaça a esses tipos de negócios vem justamente no momento em que o mercado mostrava alguns sinais positivos no primeiro semestre deste ano, após tendência de queda desde o pico histórico das fusões e aquisições em 2021.

“O aumento do IOF impacta fortemente o custo do crédito, elevando o custo de capital para operações de fusões e aquisições, especialmente as estruturadas com alavancagem, sobretudo por fundos de private equity (usadas por cerca de 30% das operações,), que dependem muito do financiamento para viabilizar aquisições”, avalie ele. 

Nesse sentido, setores como varejo, que dependem de linhas de crédito e antecipação de recebíveis; distribuidoras de combustíveis e produtores de alimentos, que lidam com operações financeiras e logística complexa; turismo, que é afetado afetado pelo IOF em câmbio; e de seguros, que têm planos impactados pelo tributo; deverão ser alguns dos mais afetados, conforme o economista. Com o acréscimo da taxação imposta pelos Estados Unidos, o ambiente para as fusões e aquisições se torna ainda menos favoráveis no Brasil, segundo Patterson. “Essa combinação eleva a percepção de risco e instabilidade, reduzindo o apetite por aquisições e empurrando investidores para mercados emergentes com maior segurança jurídica e melhores condições de financiamento”, afirma.

O que se tem agora, segundo o economista, com as duas situações combinadas, é um “sinal vermelho” para os investidores globais, mesmo que o IOF não incida diretamente sobre todos os tipos de investimentos estrangeiros. O cenário, segundo ele, será de empresas presenciando aumento nos custos dos empréstimos e financiamentos, tornando projetos de expansão e aquisição mais caros. Ele lembra que operações que dependem de crédito para antecipação de recebíveis no varejo, por exemplo, terão custo elevado, dificultando o fluxo de caixa.

“Além disso, transferências financeiras internacionais, como remessas e operações cambiais, ficam mais onerosas, afetando empresas com negócios internacionais”, diz o economista, que acrescenta que investidores podem adiar ou reestruturar aportes por causa do custo maior e da insegurança jurídica.

Histórico

Adam Patterson ressalta que o mercado de fusões e aquisições teve um pico histórico em 2021 e, depois disso, apresentou uma tendência de queda no volume das operações. O movimento, segundo ele, acompanhava um fenômeno global, intensificado localmente pelos juros em patamares recordes que aumentam o custo de capital e o custo de oportunidade, elevando o risco de crédito para empresas alavancadas.

“No entanto, houve alguns sinais positivos no primeiro semestre de 2025, com crescimento anual de volume e aumento de cerca de 25% no capital investido. Mas o aumento do IOF, somado a preocupações fiscais e instabilidade judicial no Brasil, além do antagonismo comercial com os EUA, adiciona mais um fator de risco que o mercado terá que digerir”, diz ele.

Nesse cenário, segundo o economista, os setores mais resilientes são energia, infraestrutura e empresas de tecnologia escaláveis com baixo gastos com capital, que continuam atraindo investidores “quando as avaliações fazem sentido e há alinhamento estratégico”.

Caminhos

Para o economista, diante de todos os desafios atuais, é importante que o Brasil envie sinais claros ao mercado, mostrando compromissos concretos com a estabilidade fiscal, maior previsibilidade regulatória e reformas estruturais que reduzam o custo Brasil e a burocracia. Ele ainda afirma que é necessário retomar a diplomacia comercial ativa,  buscando soluções com os Estados Unidos para mitigar o impacto das tarifas. Patterson defende políticas mais amigáveis ao ambiente de negócios e maior atenção à gestão fiscal, lembrando que o Brasil tem seus atrativos que são e devem ser valorizados.

“O Brasil é grande demais para ser ignorado, sendo o maior mercado consumidor da América Latina e uma das maiores economias do mundo. Comparado a outros países dos BRICS, o Brasil mantém vantagens importantes, sobretudo em sua estrutura regulatória e democrática, além de ser líder regional em setores estratégicos como energia, indústria e commodities”, finaliza.