A Suécia está bem perto de se tornar o primeiro país da Europa oficialmente “livre do tabagismo”. Atualmente, 5,6% da população sueca ainda fuma.
Quando chegar ao índice de 5%, o país será considerado livre do cigarro pela União Europeia (UE) e pela Organização Mundial de Saúde (OMS).
Nenhum outro país da União Europeia está próximo de replicar essa conquista e nenhum está efetivamente no caminho de alcançá-la, conforme a meta estabelecida pela UE para 2040, daqui a 17 anos.
Como base de comparação, os três países mais populosos da União Europeia - Alemanha, França e Itália - têm taxas de tabagismo de 23%, 25% e 24%, respectivamente. E isso ocorre apesar da adoção de medidas de controle do tabagismo em toda a UE.
Mas afinal, quais fatores levaram a Suécia a alcançar resultados tão diferentes dos outros países europeus e passar de uma taxa de 15% de fumantes para 5,6% em apenas 15 anos?
A inovadora estratégia sueca para minimizar os efeitos prejudiciais do cigarro foi detalhada em um novo relatório, apresentado recentemente em um seminário internacional de pesquisas em Estocolmo.
“Trata-se de combinar o controle do tabagismo com a minimização de danos”, explica o médico Delon Human, um dos autores do relatório.
Ele explica que o país aumentou os impostos sobre o cigarro e apostou na substituição dele por produtos que fazem menos mal à saúde.
“Não existem produtos de tabaco isentos de riscos, mas os cigarros eletrônicos, por exemplo, são 95% menos prejudiciais que os cigarros. É muito melhor para um fumante mudar de cigarros comuns para cigarros eletrônicos ou sachês de nicotina oral do que continuar fumando", afirma.
Snus
Os sachês de nicotina oral, conhecidos como snus, são proibidos em quase todos os países da Europa. Mas são permitidos na Suécia.
Este produto é colocado sob o lábio para fornecer nicotina através das gengivas, por cerca de uma hora. O snus provoca muito menos danos à saúde do que o tabaco, segundo diversos estudos.
E de acordo com uma pesquisa feita pela Universidade de Estocolmo, com o acompanhamento de sete anos de ex-fumantes, 80% deles consideraram que o snus foi de extrema importância para que conseguissem deixar de fumar. Metade deles continuou a usar os sachês de nicotina oral por um longo prazo.
Proibições
Desde 2019, novas restrições ao fumo entraram em vigor na Suécia. Já era proibido fumar dentro dos bares e restaurantes, mas o país também proibiu o tabaco nas varandas destes estabelecimentos.
Fumar também deixou de ser permitido em pontos de ônibus, plataformas de trens, parques infantis, campos de esportes e na entrada de lojas, bibliotecas e hospitais. A proibição incluiu os cigarros eletrônicos.
A nova legislação costuma pegar muitos turistas de surpresa, pois muitos desconhecem as regras. Assim, fumar em locais públicos fica cada vez mais difícil na Suécia.
Taxação
Os impostos sobre os cigarros na Suécia têm uma das maiores taxas da União Europeia.
Um maço custa 5,3 euros. Deste valor, 3,8 euros são tributos. Ou seja, o preço líquido do maço com 20 cigarros seria de 1,5 euros, caso não houvesse taxação.
Benefícios para a saúde
Os benefícios da estratégia da Suécia são consideráveis, com o país tendo a menor porcentagem de doenças relacionadas ao tabaco na União Europeia e uma incidência de câncer 41% menor do que outros países europeus.
“A Suécia tem uma estratégia para o tabaco muito bem-sucedida que precisa ser exportada”, diz o professor Karl Fagerström, também autor do relatório.
“Seria um benefício enorme para o mundo se mais países fizessem como a Suécia, com incentivos para mudar de cigarros para alternativas menos prejudiciais”, acrescentou Fagerström.
Queda do tabagismo também no Brasil
O percentual de adultos fumantes no Brasil também vem apresentando uma expressiva queda nas últimas décadas, em função das inúmeras ações desenvolvidas pela Política Nacional de Controle do Tabaco.
Em 1989, 34,8% da população acima de 18 anos era fumante, de acordo com a Pesquisa Nacional sobre Saúde e Nutrição (PNSN).
Uma queda expressiva nesses números foi observada no ano de 2003, quando na Pesquisa Mundial de Saúde (PMS) o percentual observado foi de 22,4 %.
No ano de 2008, este percentual caiu para 18,5%, segundo a Pesquisa Especial sobre Tabagismo (PETab).
Os dados mais recentes do ano de 2019, a partir da Pesquisa Nacional da Saúde (PNS) apontam o percentual total de adultos fumantes em 12,6%.
Assim como na Suécia, os impostos sobre o tabaco no Brasil também são bem altos. O cigarro é o produto vendido no país com maior carga tributária incluída na composição de preços.
Do total pago pelo consumidor no maço de cigarros, 83,32% são tributos estaduais e federais, segundo levantamento do Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT).
Outra semelhança da estratégia do Brasil e da Suécia para conter o tabaco é a proibição do cigarro em diversos locais públicos.
Mas em território brasileiro, a lei é um pouco mais branda e permite o uso do cigarro em recintos abertos.
O tabaco no Brasil é proibido em locais fechados, tanto públicos quanto privados, como dentro de restaurantes, bares, boates, aviões, entre outros.