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Ucrânia x Rússia: guerra completa dois anos sem previsão de desfecho

Conflito, que começou em 24 de fevereiro de 2022, é marcado por disputas territoriais, implicações políticas e impactos econômicos

Por Nubya Oliveira
Publicado em 24 de fevereiro de 2024 | 03:00
 
 
 
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Na madrugada de 24 de fevereiro de 2022, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, anunciava uma "operação militar especial" para defender as "repúblicas" separatistas pró-russas de Lugansk e Donetsk, no leste da Ucrânia, após ter reconhecido suas independências. Dois anos depois, assim que assumiu a simbólica Avdiivka, o comandante russo reivindicou, na última quinta-feira (22), novas conquistas territoriais na mesma região ucraniana. 

Diante de um cenário indefinido, especialistas apontam que o conflito - o maior em continente europeu desde a 2ª Guerra Mundial - entra em seu terceiro ano sem sinais de um fim próximo. Um acordo de paz parece distante entre Kiev e Moscou, no momento em que os dois lados enfrentam desafios financeiros e políticos para seguir com as ofensivas, que seguem impactando o restante do mundo. 

Do ponto de vista econômico, os prejuízos são consideráveis para ambos os países. As perdas materiais da Ucrânia passam de US$ 137 bilhões, segundo cálculos da Kiyv School of Economics, e os gastos militares projetados para este ano somam US$ 40 bilhões. Do lado russo, Moscou sente os efeitos de dois anos de sanções financeiras, o que significa US$ 300 bilhões em reservas congeladas no exterior. 

A falta de dinheiro se traduz em menos capacidade de combate. Os recursos necessários para uma vitória ucraniana dependem de uma boa vontade do Congresso dos Estados Unidos sequestrada pelo embate entre democratas e republicanos no ano de disputa presidencial. Já em relação à Rússia, o redirecionamento das rentáveis exportações de petróleo e gás para a China - antes feitas para a Europa -, resultaram em menos dólares no Tesouro,” enfatiza Frederico Duboc, mestre em relações internacionais pela PUC Minas.

O especialista explica que o terceiro ano do conflito será marcado por disputas eleitorais que podem determinar os rumos da guerra. A três semanas das eleições na Rússia, Putin aparece como uma figura a seguir no comando do país, e não dá sinais de recuo, a menos que o acordo seja guiado pelas exigências russas. Já o pleito dos Estados Unidos, marcado para novembro, pode determinar o afastamento estadunidense do conflito, principalmente em caso de vitória de Donald Trump. 

Ainda segundo Duboc, há outro ingrediente importante no conflito a vir. Putin deve assegurar sua hegemonia com uma vitória fácil nas eleições russas de março. As pesquisas dão vantagens de mais de 60 pontos percentuais sobre os rivais, e a maioria dos opositores está no exílio, presa ou morta, como seu principal expoente, Alexey Navalny. "Porém, a calmaria política corre sérios riscos após o fechamento das urnas. Uma nova convocação (para as forças armadas russas) de 400 mil civis entre 18 e 30 anos, aprovada no fim de 2023, deve ocorrer ainda neste semestre", conclui.

Veja vídeo com mais informações sobre o conflito: 

Cenários e impactos 

Para a professora do departamento de Relações Internacionais da PUC Minas, Daniela Secches, o conflito está entrando em uma nova etapa neste aniversário de dois anos. “Costumo considerar que a guerra estaria entrando em sua sexta fase agora, em que a Rússia reage à contraofensiva. O que observamos, especialmente nos últimos dias, é uma retomada por parte do exército russo de pontos importantes, especialmente ali ao centro da linha de combate, na região de Zaporíjia, com algumas cidades sendo abandonadas pelos ucranianos por falta de munição.” 

Conforme a professora, apesar de ser uma situação que no momento favorece os russos, os rumos do conflito devem seguir sem alterações a curto prazo. “Há uma tendência de congelamento. Não vejo prognóstico para um acordo a respeito, porque há um custo muito grande para o governo ucraniano ceder esses territórios ou reconhecer algum tipo de sessão. Por outro lado, há um alto custo também para o ocidente negociar algum tipo de reconhecimento jurídico da soberania russa sobre esses territórios,” explica. 

Se a guerra não esboça sinais de que chegará ao fim, os impactos políticos também estão longe de se findarem ou arrefecerem, segundo Daniela. “O que observamos é uma Rússia cada vez mais distante do Ocidente, o que nos leva ao momento de mudanças profundas da arquitetura internacional. Esse conflito consolidou uma série de questionamentos que já vinham ascendendo desde os anos 2000, com a deterioração do poder dos Estados Unidos. Para onde o mundo ruma, não sei precisar, mas apostaria que para um lugar diferente do qual estamos,” finaliza a professora. 

Leia mais: Ano III da guerra na Ucrânia será de luta por dólares 

Veja uma linha do tempo da guerra, que completa dois anos:

Balanço 

Outra indefinição é em relação ao saldo da guerra. Desde o início do conflito em fevereiro de 2022, Moscou diz que causou 385 mil baixas a Kiev, e a Ucrânia relata 315 mil russas. A conta ocidental usual fica em 500 mil ao todo, algo mais para a Rússia. Entre civis, a Organização das Nações Unidas (ONU) relata com mais precisão 6,5 milhões de ucranianos refugiados fora do país e outros 3,7 milhões, deslocados internamente.

Drones são destaques da guerra

Em quase dois anos de guerra, que serão completados no sábado (24), a Rússia lançou uma média de 17 ataques aéreos com mísseis e drones por dia contra a Ucrânia.  A conta foi apresentada nesta quinta (22) pelo porta-voz da Força Aérea de Kiev, Iurii Ihnat. Ele somou 12.630 ataques, cerca de 8.000 deles feitos com mísseis e os restantes, com drones. A Rússia não divulga nenhuma estatística sobre o emprego de seus armamentos.

Ihnat disse que foram derrubados 77% dos drones, a maioria modelos iranianos Shahed-136, que a Rússia passou a usar em maior escala em 2023. Os russos adotaram também táticas variadas para aumentar a eficácia de suas ações - lançando ondas dos aparelhos, mais baratos e fáceis de abater por serem lentos, saturando as defesas e aí entrando com mísseis supersônicos ou até hipersônicos.

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