O primeiro turno das eleições municipais, ocorrido no dia 6 de outubro, teve como principal característica nacional a constatação de que a direita se consolidou como uma força política nacional. Nessa eleição, candidatos se apresentaram ao eleitorado como “de direita”, o nome foi largamente exposto pelos candidatos e também pelo noticiário e, ao contrário de anos atrás, isso não foi recebido com temor ou vergonha, mas com orgulho.

Por outro lado, a esquerda teve muitas derrotas expressivas no país e cedeu terreno para os partidos identificados no campo da direita.

Os cinco partidos que mais ganharam prefeituras foram, na ordem, PSD (888), MDB (861), PP (752), União Brasil (583) e PL (523). Apesar da postura mais pragmática assumida pelo PSD e pelo MDB, esses partidos tendem a assumir posições mais de centro-direita. Os demais, ao contrário, têm identidade de partidos de centro-direita e direita. E nenhum deles é um partido de esquerda, como PT, PSB e PDT, que ficaram, respectivamente, na sétima posição (PSB), nona posição (PT) e décima posição (PDT).

Outra contagem evidencia melhor a consolidação nacional da direita. Quando se avalia o porte do eleitorado conquistado pelos partidos, os cinco partidos que mais conquistaram eleitores foram, na ordem, PL (15,7 milhões), PSD (14,5 milhões), MDB (14,4 milhões), União Brasil (11,3 milhões) e PP (9,9 milhões). Em sexto vem o PT, com 8,9 milhões.

Ou seja, os partidos de direita cresceram em número de prefeituras conquistadas e em quantidade de eleitores, deixando os partidos identificados como esquerda em posição secundária.

As consequências políticas e institucionais dessa consolidação da direita nacionalmente são muitas. Serão mais prefeitos e vereadores, orgulhosos do movimento que representam, que continuarão a atuar como políticos comprometidos com um misto de valores conservadores e liberais em todo o país. Os eleitores, por sua vez, terão menos resistência para se assumirem como defensores desses valores. Sem dúvida, um movimento de empoderamento da postura dessa corrente política em todo o país.

Desse modo, aumentarão as pressões dessas bases eleitorais sobre a atuação dos políticos nacionais (deputados federais e senadores) que são representantes desses movimentos. O Congresso Nacional, em especial a Câmara dos Deputados, deverá continuar sua atuação mais independente do governo federal, dificultando a imposição de uma agenda mais à esquerda por parte de um Executivo com baixa capacidade de articulação no Congresso Nacional.

Nesse aspecto, a disputa em torno das emendas parlamentares continuará, pois o maior controle que, ao longo de anos, os parlamentares conseguiram sobre a liberação impositiva de emendas, com calendário de liberação, tirou do presidente um instrumento de pressão para conseguir passar sua agenda de governo.

O aumento do controle das emendas, junto com o bilionário financiamento eleitoral, foi importante para o avanço da direita mesmo com o país sendo governado por um político de esquerda. E, a cada avanço, esse movimento se consolida e busca avançar mais.

Esse resultado repercutirá de imediato nas próximas eleições para o comando do Congresso Nacional. Os futuros presidentes do Senado Federal e da Câmara dos Deputados terão a marca das eleições municipais deste ano, a que consolidou a imagem da direita na política nacional.

Adriano Cerqueira
Professor de relações internacionais do Ibmec