Marcos Nicolau é diretor Antifraude do Efí Bank
Toda instituição financeira é alvo. E não é exagero. Golpes, fraudes, tentativas de burlar o sistema acontecem o tempo todo - e se tornam mais sofisticadas a cada nova tecnologia. Diante disso, não basta reagir: é preciso antecipar.
Nesse contexto, acredito que a palavra antifraude ganhe um peso ainda maior. Porque ela não define apenas uma área do banco. Define uma mentalidade. E, mais do que um mecanismo de defesa, o antifraude é uma frente estratégica. Afinal, estamos falando de decisões que impactam diretamente o negócio, tanto as que autorizamos, quanto as que negamos.
Imagine o seguinte: um monitoramento aponta uma transação como suspeita. Você barra ou libera? De um lado, pode evitar um golpe milionário. De outro, corre o risco de bloquear o pagamento legítimo de um cliente. Essa é a natureza do trabalho antifraude: identificar, avaliar e considerar o risco, com rapidez, responsabilidade e precisão.
É por isso que gosto de dividir os processos em dois pilares fundamentais: a zona-cinzenta e o fato. O primeiro acontece quando algo parece errado - mas ainda não há certeza. É um momento de incerteza, em que é preciso decidir com
base em indícios. Já o segundo acontece quando o cenário está confirmado. E aí, o foco passa a ser a mitigação de danos, a comunicação com o mercado e o reforço de barreiras.
Ambos exigem a mesma coisa: decisão qualificada e bem-informada.
Claro, a tecnologia ajuda! Inteligências artificiais vêm sendo usadas tanto por bancos quanto por criminosos. Sim, golpistas já usam IA para tentar burlar sistemas de biometria facial, falsificar documentos, ludibriar vítimas com ligações e contatos falsos, se passando por conhecidos dessas vítimas, entre outras várias estratégias. Por outro lado, essas mesmas tecnologias também nos ajudam a identificar padrões, cruzar dados e sinalizar comportamentos atípicos com agilidade. Mas é bom lembrar: em muitos casos, a decisão final continua sendo humana. E precisa ser embasada.
Acredito que a grande virada está justamente aí: como empoderar o tomador de decisão com as informações certas, no tempo certo? Não se trata apenas de ter sistemas e monitoramentos tempestivos, mas de criar um ecossistema antifraude que funcione como uma engrenagem: tecnologia, pessoas, protocolos e cultura organizacional precisam andar juntos.
Porque, no fim do dia, a diferença entre um bom sistema antifraude e um grande problema pode estar em uma escolha feita em segundos.
Por isso, antifraude é, e precisa ser tratado como, um núcleo estratégico dentro de qualquer instituição financeira. Não só porque protege o dinheiro, mas porque protege a confiança - e a reputação.