Contemplando as chuvas de novembro, que chegam devagar e insistentes a molhar o solo e nos trazer aquele delicioso cheiro de terra molhada, penso na educação. O que é o ato de educar além do incansável ato de insistir, resistir, preparar o cérebro do aluno (terra) com gotas cotidianas de conhecimento?
Ah, educar tem sido chover!
Chover para brotar ideais, chover para brotar saberes, chover para fazer com que as pessoas se transformem e, assim, transformem a sociedade. Quanta luta traz a educação! Quanta responsabilidade carregamos no ato de fazer chover para que a terra seja fértil e dê bons frutos! Chover para que o cheiro (ideias e ideais) da terra molhada (educação) se espalhe, floresça, brote e dê frutos (pessoas) melhores para este mundo tão carente de gente boa.
Um sala de aula não é um espaço vazio de significados e não pode se reduzir apenas a um espaço em que o conhecimento seja saboreado. Uma sala de aula precisa ser espaço e tempo de plantio, onde a chuva caia com insistência, devagar e sempre, num molhar terno, mas também em tempestades absurdas, mas sempre uma chuva a fazer com que a terra esteja pronta, fértil para receber as sementes (nossa ladainha diária) e que estas floresçam.
Educar é saber passar pelas tempestades com a coragem de quem sabe que logo, logo o sol vai ressurgir. É saber que trovões e trovoadas são necessários para que a calmaria do tempo bom surja fortalecendo o que se plantou, resgatando o que se ensinou e, assim, num eterno aprendizado com a natureza, criar asas para libertar os alunos das ignorâncias da vida.
Chover no molhado. Já ouviram esta expressão? Pois é, educar muitas vezes é chover no molhado, insistir, repetir mil vezes o que tem que ser aprendido, lutar por parcerias, bater com a cara na porta, ouvir que é problema da escola, enfim, às vezes temos a sensação de que estamos chovendo no molhado, mas aí vem logo uma brisa leve e nos diz que, apesar de tudo, ainda somos chuva a cair nos canteiros do saber, ainda somos esperança para quem deseja transformar sua vida, ainda somos sinônimo de fé, garra e determinação pra muita gente.
Educar é, sim, sem dúvida alguma, como as chuvas de novembro, que, na sua insistência em cair de mansinho, vão nos levando a lugares aonde nunca pensamos chegar, nos transportando para o imaginário das pessoas, mexendo com seus sonhos, provocando suas reflexões e nos atrevendo a mudar muita coisa neste mundão de meu Deus.
Comparar o ato de educar a chuva que cai devagar, que insiste em ficar, que afofa a terra, que nos dá preguiça, é nos permitir saber que ainda somos a esperança de semear oportunidades e sonhos para muita gente e fazemos isso cotidianamente com a calma e leveza de uma chuva fina.
Comparar o ato de educar aos trovões e trovoadas e tempestades, que chegam agredindo a terra e tirando tudo do lugar, é saber que muitas e muitas vezes precisamos ser furações na nossa práxis, precisamos virar a mesa e fazer com que nossos alunos queiram mais, é preciso força para arrancar do comodismo e arrastar numa enchente todo aquele que não quer se movimentar, que quer apenas ocupar um lugar na sala de aula.
Ah, educar é como chover, e não nos restar mais nada a fazer além de nos prepararmos para a calmaria das chuvas finas de novembro e as tempestades de janeiro e, com essa relação com a natureza, aprender com ela que é preciso chover. É preciso chover para florescer, é preciso chover para transformar, é preciso chover para brotar o sonho de um mundo melhor, e só a educação é capaz disso.
(*) Jacqueline Caixeta é supervisora pedagógica e palestrante