No dia 5 de novembro aconteceu a eleição presidencial e de renovação parcial do Congresso dos Estados Unidos (Casa dos Representantes e Senado). Foi também o último dia para alguns Estados que iniciaram o processo de votação prematuramente, como a Pensilvânia.
Donald Trump (do partido Republicano) e Kamala Harris (do partido Democrata) chegaram no dia com algumas pesquisas e sites analíticos de pesquisas indicando favoritismo para um ou para outro. Como de costume, as pesquisas eleitorais norte-americanas tiveram um desempenho polêmico, com a tendência de institutos de pesquisas independentes indicarem favoritismo para Trump, e institutos associados com a grande imprensa indicarem favoritismo para Kamala,
Quem acompanhou as pesquisas de institutos independentes, como Rasmussen ou Atlas Intel não se surpreendeu com o resultado que indicou grande vitória de Donald Trump, tanto no voto popular (atualmente com vantagem próxima de dois milhões e meio de votos), quanto no Colégio Eleitoral, com 312 delegados.
Além disso, o partido Republicano obteve a maioria no Senado, com 53 senadores, contra 47 do partido Democrata. E na Casa dos Representantes, o partido Republicano garantiu a maioria com 220 deputados, contra 213 do partido Democrata.
Trump chega ao seu segundo mandato presidencial com uma força política que não teve no primeiro, e ele deu demonstrações de ter entendido isso, por meio de suas indicações para a composição de seu governo, como Elon Musk e Robert Kennedy Jr.
As razões dessa grande vitória podem ser resumidas ao estado da economia dos EUA, à memória ainda recente da primeira administração de Trump, à qualidade da candidatura do partido Democrata e ao extremismo político do partido Democrata.
O norte-americano médio está insatisfeito com a economia dos EUA sob a administração Biden/Harris.
Um indicador importante, e pouco falado, é o Índice de Sentimento do Consumidor, medido pela Universidade de Michigan. Quando esse índice fica acima dos 90 pontos o significado é que o consumidor americano está satisfeito e otimista com a economia. Em outubro, véspera do pleito, o índice estava 70,5, pontuação muito baixa e indicativa de decepção e pessimismo com a economia.
A vice-presidente, Kamala Harris, sofreu esse impacto na candidatura. Trump, que tinha sido presidente antes de Biden, com boa avaliação de sua política econômica, teve grande vantagem nesse ponto.
A própria candidatura da Kamala era fraca, seja porque ela não disputou as primárias do partido Democrata, sendo pinçada para substituir Biden, gerando protestos e divisões no partido, seja porque ela não se mostrou preparada para o desafio, fugindo de entrevistas e programas que exigiriam maior improviso de sua parte.
Além disso, sua participação nos comícios era menos intensa em tempo de duração e quantidade que a de seu principal concorrente, Trump, que estava disputando sua terceira campanha presidencial e pareceu ser bem mais jovem e com mais energia que Kamala Harris,
Finalmente, o crescente extremismo político do partido Democrata foi afastando o partido da maioria da população americana, cujos valores e expectativas de vida coletiva foram ficando à margem dos valores propagados pelo partido. Democratas que brigaram com o partido e se afastaram dele, como Tulsi Gabbard e Robert Kennedy Jr, acabaram por endossar a candidatura de Trump e irão participar de seu governo. A principal razão da saída foi o clima de intolerância dentro do partido Democrata.
O fato é que a 47ª Presidência dos EUA, com Donald Trump, mexeu profundamente na política interna dos EUA e no mundo, que estão em compasso ansioso de espera por 20 de janeiro de 2025, dia da posse do novo presidente norte-americano.
(*) Adriano Cerqueira é professor de Relações Internacionais do IBMEC