Para aqueles que não estão familiarizados com o mundo dos quadrinhos, o título deste artigo era o lema de vida de Stan Lee, o idealizador da Marvel como conhecemos hoje. É uma palavra latina que significa “sempre em frente”, que começou como expressão interessante e inteligente para seus quadrinhos e culminou em uma maneira de se viver. Essa expressão pode e deve ser aplicada àqueles que fazem da arte sua vida e seu ganha-pão, pois não é um caminho fácil. Mas qual caminho o é?  

Para ser bem-sucedido, o profissional deve se esforçar e trabalhar muito antes de colher as recompensas. Quando penso no mundo artístico, sempre me recordo de uma frase de Mark Twain: “O homem com uma nova ideia é um excêntrico até que a ideia seja bem-sucedida”. 

Desafio aos inovadores

O mundo nunca foi muito simpático com as pessoas cujo talento não se adequa à norma. Sempre exigiu que elas provassem seu valor antes de aceitá-las completamente em seu meio. Isso se elas não desistirem no caminho antes de alcançarem seus desejos e reverterem aos empregos “reais”. Até hoje, quando alguém fala que vai ser ator, cartunista, escritor, escultor, poeta, músico ou afins, muitas pessoas olham meio de banda e fazem aquela maravilhosa cara de paisagem. Acham que não é um “trabalho de verdade” ou que é quase impossível conseguir sobreviver com esse tipo de carreira. 

Sempre me surpreendo com essas reações, uma vez que, em seus momentos de descanso e lazer, essas mesmas pessoas leem livros e quadrinhos, assistem filmes e séries, escutam música, vão ao teatro e fazem mais de mil e uma coisas que dependem dessas mesmas pessoas de quem elas caçoam e, às vezes, desprezam. Elas acham que toda essa arte provém de alienígenas? Que os livros se escrevem sozinhos? (Os trabalhos com inteligência artificial estão bem avançados, mas ainda não conseguem substituir um cérebro humano no quesito criatividade). 

Quadrinhos e criatividade

Por isso sou uma ferrenha defensora daqueles que visam enriquecer o nosso mundo com suas ideias inovadoras e criativas. E, para mim, uma das coisas que representa bem essa criatividade são os quadrinhos. Seus autores não criam somente um personagem, mas também uma história fantástica ou, muitas vezes, um mundo inteiro. São histórias que tem o potencial de nos ensinar muito e de causar fortes emoções. E não, não é algo só para crianças e adolescentes.  

Vários autores escrevem narrativas para adultos e alguns quadrinhos são até desaconselhados a crianças – “Sin City” e “Watchmen”, para citar alguns. Existem artistas que optaram por usar esse meio para contar fatos históricos importantes. Suas histórias narram acontecimentos como a ascensão do nazismo (“Berlim”, de Jason Lutes), experiências no campo de concentração (“Maus”, de Art Spiegelman), a revolução islâmica no Irã (“Persépolis”, de Marjani Satrapi) e experiências na Faixa de Gaza (“Palestina”, de Joe Sacco), para citar alguns. Só porque ela é contada com desenhos não diminui o impacto dessas obras. Pelo contrário, às vezes permite uma imersão ainda maior do leitor na leitura. 

"Viver de arte'

Então, da próxima vez que encontrar alguém que “vive de arte”, lembre-se que é um trabalho como qualquer outro. Com altos e baixos, alegrias e tristezas, podendo ser bem ou mal remunerado! E para aquelas almas iluminadas que querem conhecer mais sobre esse meio e tem interesse em apoiar artistas e suas obras fica a dica da FIQ BH 2024. Um festival internacional de quadrinhos que acontece nos dias 22 a 26 de maio no Minascentro e permite aos seus visitantes um vislumbre do maravilhoso universo dos quadrinhos. 

(*) Bárbara Molinari é escritora com formação em relações internacionais e linguística