Em menos de um mês, o governo de Minas Gerais tentou desalojar a Orquestra Filarmônica, anunciou a extinção do BDMG Cultural e a venda de prédios do Ipsemg (incluindo edifícios históricos que abrigam equipamentos culturais, como o Centro de Arte Popular). Sobre a orquestra, a pressão foi grande, e a Fiemg recuou da proposta de gerir a Sala Minas Gerais. Não é novidade, no entanto, que o governo chefiado por quem não conhece Adélia Prado sempre foi inimigo da cultura. 

Logo que assumiu, Romeu Zema propôs a (con)fusão da pasta da Cultura com a do Turismo e colocou à frente da nova secretaria Leônidas Oliveira, que foi secretário nos tempos de Marcio Lacerda e deixou o governo Bolsonaro para participar do desmonte do setor em casa mesmo. 

A cafonice mercadológica é o que orienta a pasta e coloca a cultura a serviço de promover e vender o tal “turismo cultural”, em vez de priorizar transformar, democratizar, fruir e simbolizar nossa diversidade. Para ficarmos em apenas um exemplo, em 2021, o governo lançou editais para o audiovisual indicando as temáticas: Sabores de Minas, Amor em Minas e Lendas Mineiras. Puro suco do dirigismo cultural. Minas são muitas, é o que afirmamos diante dessa tentativa de privatizar e reduzir nossa imensidão. 

Falando em editais, perdemos o Música Minas, o Cena Minas e o Filme em Minas e ganhamos mais burocracia e a evidente falta de planejamento em programas e projetos estruturantes. Na execução das leis Aldir Blanc e Paulo Gustavo no Estado, o sucateamento da Secult-MG ficou gritante. 

A questão da Lei Paulo Gustavo em Minas, aliás, é bem grave. O governo publicou um resultado que depois foi alterado por pura incompetência, prejudicando vários agentes culturais e dando insegurança jurídica ao processo. Há quem diga que a única solução possível seria refazer tudo do zero. Muito “desperdício de dinheiro público”, como gosta de denunciar o pessoal do partido do governador. 

“Sucateamento” é a palavra da vez também na Rede Minas, que já foi considerada a terceira maior emissora pública no país, na rádio Inconfidência e na Universidade do Estado de Minas Gerais. E não para por aí: o governo Zema atuou contra o tombamento da serra do Curral, apoiou a instalação de uma fábrica de cervejas na “caverna de Luzia” e entregou a Serraria Souza Pinto para a iniciativa privada. 

Somam-se a esse quadro de desmonte os 54 milhões que seriam destinados para a cultura do Estado por meio do CEUs da Cultura, braço do PAC do governo Lula. A imprensa noticiou que Minas chegou a cadastrar duas propostas para melhorias na estrutura do Palácio das Artes, mas perdeu o prazo de envio para análise, não sabemos se por incompetência, conveniência ou conflito político. 

Foi por desdém pela festa popular, porém, que o governo de Minas tentou barrar, em 2020, na véspera do Carnaval, os cortejos dos maiores blocos da capital mineira. Quatro anos depois, querendo se utilizar eleitoralmente da festa, Zema tentou se apropriar do Carnaval de BH anunciando um investimento inédito no circuito sonorizado.

Agentes do Carnaval da cidade denunciaram que os recursos foram distribuídos sem critério transparente e são oriundos da renúncia da Lei Estadual de Incentivo à Cultura. O que não foi inédito foi a atuação da Polícia Militar, que seguiu investindo com violência contra desfiles e foliões. 

Para terminar esse desenrolar de descalabros que parecem não findar nunca, recorro a ela, Adélia Prado: “Quando nasci um anjo esbelto, desses que tocam trombeta, anunciou: vai carregar bandeira”. Minha bandeira é a cultura, e estamos em luta.