No filme “O Grande Ditador”, de Chaplin, há uma cena clássica em que um judeu, confundido com o ditador, é colocado em seu lugar e brinca com um globo terrestre, jogando-o de um lado para o outro como se ele fosse o dono do mundo. Nesse filme Chaplin faz uma sátira ao nazismo, ao fascismo e ao autoritarismo, e pensamos que tudo isso é passado, que a sociedade evoluiu.

Chegamos a nos perguntar como, na história, milhares de judeus, homossexuais, negros e outros grupos foram massacrados, mais do que isso, nos perguntamos como os ditadores tiveram apoio.

Mas a gente vive o suficiente para escutar que “a Faixa de Gaza será entregue aos Estados Unidos por Israel ao fim dos combates” e os palestinos serão “reassentados em comunidades muito mais seguras e bonitas”. E, junto a esse tipo de declaração, vemos a censura literária crescendo exponencialmente. Não estou aqui dizendo que temos ou teremos um novo ditador, mas, como alguém que respira comunicação, ver discursos extremistas crescendo no mundo é assustador.

Não estou falando apenas dos EUA, mas o país é uma liderança mundial e exemplifica os discursos de ódio que estão presentes em todo o mundo. Campanhas antivacina, descrenças sobre as descobertas científicas, as questões climáticas, a “mulher-troféu”. Todos esses são movimentos que só crescem na atualidade e que ganham apoio por meio de discursos religiosos e ufanistas.

Há momentos em que fico me lembrando das imagens dos documentários com multidões escutando Hitler. Assustador, afinal, todo discurso tem por finalidade a persuasão, especialmente o político. E discursos extremistas podem parecer convincentes, mas, na prática, manipulam a massa.

Ligo sempre um alerta quando identifico algumas características nos discursos. A primeira é a simplicidade – ditadores tendem a simplificar suas mensagens e a usar slogans e frases de impacto que facilitam a disseminação de suas ideias. Outra é a dualidade: eles criam uma visão do mundo em preto e branco, frequentemente dividindo as pessoas entre “nós” e “eles”, unindo a essa ideia um discurso emocional para inspirar lealdade, medo ou raiva. Frequentemente, criam um “inimigo” a fim de unificar as pessoas contra uma ameaça comum, como o comunismo, por exemplo. Também prometem esperança por meio de mudanças radicais, oferecendo uma visão utópica do futuro sob sua liderança. As suas ideias são repetidas continuamente para reforçar as mensagens. Tentam, ainda, controlar os meios de comunicação e censuram o acesso à informação.

Em “O Príncipe”, de Maquiavel, o autor ensina que, se os objetivos do governante forem importantes o suficiente, qualquer método para atingir um fim será aceitável. Assim, para ele, os governantes devem estar acima da ética dominante para manter ou aumentar seu poder. Eu tenho certeza de que o discurso é um dos principais meios para um líder autoritário chegar a esse fim. Maquiavel publicou sua obra em 1513, e, inacreditavelmente, os atuais discursos só provam quanto “O Príncipe” ainda é extremamente atual.