Roberto E. Schmidlin é psicólogo clínico, analista existencial  e mestre em filosofia

Recentemente falamos sobre um contingente populacional relativo à opinião pública que designamos por enganados, pois se constitui de pessoas sistematicamente nessa posição. Pessoas acríticas, ansiosas por seguir um guia, por mais mentiroso e manipulador que seja. Referimo-nos a elas como preguiçosos mentais e despeitados das pessoas críticas. Agora queremos nos aprofundar um pouco em sua dinâmica psicológica para ajudar o leitor a compreendê-las melhor.

Essas pessoas são também propensas a um modo de pensar conservador. Na origem de sua posição se encontra o comodismo psicoexistencial. Comodismo diante da novidade, diante do complexo, daquilo que exige qualquer esforço mental. 

Efeito apaziguador

Aferradas, assim, a seus preconceitos – os preconceitos funcionam como uma solução prévia aos problemas e às situações novas da vida em sociedade –, elas preferem seguir o líder, o “influencer”, a se dar ao trabalho de correr atrás de versões variadas sobre as notícias e acontecimentos sociais e políticos a fim de colher visões diferentes deles e compor um quadro mais completo e, eventualmente, mais verdadeiro, checando as contradições, detectando os absurdos, separando o relevante do “ruído”.

Os preconceitos, as respostas prontas são apaziguadores. Os problemas, o incompreendido, o novo geram angústia, pois implicam a possibilidade de se encontrar despreparado para a situação. Dessa forma, o comodista procura não uma nova compreensão, mas algo que confirme seus preconceitos, que o reassegure na posição de sabedor e dominador dos fatos. 

O apaziguamento vem, assim, pela supersimplificação de toda explicação, pela reiteração de seus pontos de vista prévios e, acima de tudo, pelo comportamento de manada: se todos, ou muitos, entendem assim, então é assim que está certo. A manada, como já Freud observou, tende a seguir o líder, o “Führer”. A manada se forma pela necessidade desse reasseguramento que cada um sente em seus pontos de vista. 

Reação emocional

A confiança no líder é uma necessidade psicológica extrema: é necessário que ele esteja certo para que nós estejamos tranquilos e nos sintamos protegidos e poderosos. Protegidos, acima de tudo, contra o novo e contra todo esforço de adaptação.

Mas essas pessoas têm ainda outra característica comportamental importante: reagem emocionalmente, e não racionalmente. O que as une é o sentimento de reasseguramento que obtém no grupo, e nunca o de uma nova compreensão dos fatos. Trata-se para elas, antes de tudo, de revalidar sua visão de mundo; entusiasmam-se com o líder que revalida o velho, principalmente se lhe dá uma aparência de novo entendimento. O que lhes causa horror é ter que se reciclar, enfrentar o imprevisível, enfrentar o devir do mundo. Preferem o estático, o imóvel, o morto.