Leônidas de Oliveira é secretário de Estado de Cultura e Turismo de Minas Gerais

As Semanas Santas Ibéricas, celebradas em cidades como Valladolid, Sevilha, Málaga, Braga e Óbidos, são expressões de fé que integram a arte barroca e a identidade comunitária, organizadas por confrarias leigas que perpetuam há séculos as procissões, músicas sacras e representações dramáticas da Paixão de Cristo.

Essas manifestações, profundamente ligadas ao barroco como linguagem estética e espiritual, foram analisadas por teóricos como Eugenio D’Ors, que define o barroco como uma “permanente tentativa de dramatizar o mundo”, dando forma visível às emoções e à transcendência. No contexto ibérico, esse dramatismo religioso alcança sua plenitude na Semana Santa, quando as ruas se tornam palcos sagrados.

Com a colonização portuguesa, esse complexo cultural e religioso encontrou em Minas Gerais um solo fértil para florescer. As confrarias mineiras, compostas por brancos, negros, pardos, livres e escravizados, foram agentes fundamentais na difusão do barroco, que se enraizou nas cidades coloniais e barrocas, e também naquelas nascidas nos séculos XIX e XX.

Surgiu assim um barroco plural e vivo, que uniu a erudição artística à força telúrica da fé popular – o barroco das ruas, das festas, das igrejas e das montanhas. Minas é barroca, sim, mas também profundamente marcada pela arte popular, pelas mãos anônimas que criam altares, vestes, cantos e imagens, transformando fé em expressão e cultura.

A Semana Santa mineira é, hoje, uma das maiores expressões dessa herança. Em Ouro Preto, Mariana, São João del-Rei, Congonhas, Tiradentes e Sabará, o barroco brilha em cada altar e procissão. Já no Jequitinhonha e no Norte de Minas, o sertão, como disse Guimarães Rosa, “é onde o pensamento da gente se forma mais forte que o poder do lugar”, e é lá que a fé se revela em sua pureza, com arte popular vibrante, que transforma a terra e o barro em símbolos de devoção. No Sul de Minas e na Mantiqueira de Minas, as águas e a serenidade da paisagem tornam a Semana Santa um tempo de introspecção e encontro com o sagrado.

Minas é barroca, mas também contemporânea. A arte popular e a cultura viva das comunidades dialogam com o mundo moderno, sem perder sua essência. Como escreveu Carlos Drummond de Andrade: “Minas não é palavra: é um silêncio que se ouve”. Esse silêncio se faz presente nas madrugadas de procissões, nas ladainhas, nos passos que percorrem as pedras seculares das cidades históricas. Em todas as regiões – Triângulo, Centro-Oeste, Vale do Aço, Zona da Mata – a Semana Santa é celebrada com identidade própria, revelando a riqueza dos territórios e a diversidade cultural de Minas.

O programa Minas Santa valoriza essa multiplicidade, conectando fé, arte e turismo. É preciso tempo para visitar Minas na Semana Santa – pelo menos uma semana – para mergulhar na espiritualidade, nos sabores da cozinha mineira, nas paisagens de montanha e no calor humano do acolhimento.
Em tempos de pluralidade religiosa, Minas promove o respeito, o diálogo e a fraternidade. A fé aqui é caminho, é ponte, é encontro. Minas é barroco, é arte popular, é contemporaneidade – é, sobretudo, beleza e transformação