Flávio Saliba Cunha é sociólogo e professor universitário

Nada melhor do que uma chuva moderada para mostrar o descalabro do trânsito em Belo Horizonte e cercanias. Entre as capitais brasileiras, BH é a que tem, em termos proporcionais, a maior frota de automóveis. Isso não é motivo de orgulho, e sim uma constatação de que não contamos com transporte coletivo de qualidade. 

Felizmente, estamos assistindo ao surgimento de movimentos cujas pautas são, exatamente, a mobilidade urbana e a proteção do meio ambiente: o crescente, e mais do que justo, movimento pela volta dos trens de subúrbio e pela criação de um parque linear, ao lado de uma linha de VLT, na abandonada ferrovia da mineração de Águas Claras. 

Surgem, também, manifestações como a da rejeição à proposta de transformar a praça Sete num arremedo da Times Square, desfigurando o patrimônio histórico-arquitetônico local. Mas, aqui, vou me ater a uma questão que, embora pontual, atinge em cheio o trânsito de uma vasta área dos vetores Sul e Oeste da região metropolitana de Belo Horizonte. Trata-se dos engarrafamentos na divisa dos municípios de Belo Horizonte e Nova Lima. 

Entre as discutíveis propostas de intervenção no trânsito da região, ganha fôlego a de um projeto óbvio de duplicação do viaduto no trevo do BH Shopping. Tal proposta, no entanto, prevê o corte de centenas de árvores no Belvedere, o que logo provocou a reação da população local. 

A Prefeitura de Belo Horizonte abraçou a causa da obra com o compromisso de suprimir apenas 25% das árvores, sem se atentar para detalhes técnicos que apontam que nem uma árvore de porte precisa ser sacrificada. Adepta do projeto original, uma vereadora de Belo Horizonte, além de desqualificar a participação da população local, errou feio ao afirmar que as árvores devem ser eliminadas porque o congestionamento do trânsito tem início ao lado do BH2 Mall. 

Ora, o congestionamento nessa área é consequência, e não causa, que, de fato, encontra-se numa das alças que chegam ao viaduto. Qualquer observador atento constata que o principal gargalo nesse trevo é causado pelo grande afluxo de veículos que, vindos da direção Rio-Belo Horizonte pela BR-356, tentam alcançar a avenida Raja Gabaglia. Os veículos vindos de Nova Lima destinam-se majoritariamente à mesma avenida e, em menor escala, à BR-356 na direção Rio de Janeiro. Veículos vindos da MG-030 em direção ao centro de BH não passam pelo viaduto devido à existência de uma trincheira que a liga diretamente à BR-356. 

A verdade é que a duplicação do viaduto e o alargamento da pista podem se dar um pouco depois da alça que dá acesso a Belo Horizonte sem afetar as árvores que margeiam a Lagoa Seca. 
Mas não haverá solução definitiva para o trânsito na região, incluindo a BR-356 e a avenida Nossa Senhora do Carmo, sem que as autoridades locais se atentem para alternativas gritantes, como a reativação dos trens de passageiros entre BH-Nova Lima, Raposos e Rio Acima e o aproveitamento da estrada que liga o centro de Nova Lima a Sabará, onde há um acesso a Belo Horizonte passando pelos bairros da Saudade e do Taquaril para atingir a avenida dos Andradas.