Coronel Ailton Cirilo é especialista em segurança pública

Os dados divulgados recentemente pelo Mapa da Violência de 2025, produzido pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública, merecem atenção, mas também uma análise responsável, equilibrada e livre de conclusões precipitadas. O aumento de 43% na letalidade policial e de 33% nas mortes de agentes de segurança em Minas Gerais não pode ser tratado de forma isolada ou sensacionalista. Por trás de cada número existe uma realidade complexa e perigosa, enfrentada diariamente por nossos policiais, que colocam suas vidas em risco para proteger a sociedade.

Não é aceitável que os agentes públicos, responsáveis por garantir a lei e a ordem, sejam vítimas de uma escalada de violência enquanto exercem suas funções. A morte do sargento Roger Dias, brutalmente assassinado durante uma perseguição em Belo Horizonte, é apenas um dos muitos exemplos da crueldade enfrentada por aqueles que juram servir e proteger. Infelizmente, enquanto se cobra dos policiais um comportamento técnico e preciso em situações-limite, pouco se fala do despreparo do Estado em oferecer condições adequadas de trabalho, treinamento contínuo, valorização profissional e respaldo jurídico.

Quando se analisa o aumento da letalidade policial, é preciso considerar que cada confronto é consequência de um cenário de hostilidade crescente. Nossos militares não saem às ruas com o intuito de matar, mas sim de garantir a segurança da população. Quando são atacados, têm o dever de reagir para proteger suas vidas e a de terceiros. É inadmissível que se tente transformar o policial em réu por cumprir sua missão diante de criminosos armados e cada vez mais ousados.

Enquanto isso, o mesmo relatório que destaca a alta nas mortes de agentes e na letalidade policial também registra uma queda significativa no tráfico de drogas em Minas Gerais – redução de quase 20%, a maior do país. Esse dado, curiosamente, tem sido pouco explorado. A repressão qualificada ao tráfico é resultado direto da atuação firme e estratégica das nossas forças de segurança, que, mesmo com efetivos reduzidos e estrutura limitada, têm demonstrado eficiência e coragem.

Minas Gerais precisa, sim, discutir segurança pública. Mas precisa, sobretudo, de um debate sério, que reconheça o sacrifício de nossos homens e mulheres fardados, que enfrentam o crime com coragem, enquanto o Estado, muitas vezes, se omite em garantir-lhes o básico: proteção legal, reconhecimento institucional e investimento estrutural.

É preciso inverter a lógica. Não se combate a violência criminal enfraquecendo os pilares da segurança pública. O caminho não é criminalizar o policial, mas sim valorizar sua missão. Se os números preocupam, que sirvam de alerta não para atacar nossos agentes, mas para cobrar políticas públicas que fortaleçam as instituições e protejam a vida – tanto do cidadão quanto do servidor.

O momento exige responsabilidade, respeito e compromisso com a verdade. E essa verdade é simples: não há segurança sem o policial. E não há justiça quando quem protege passa a ser acusado por cumprir seu dever.