Eduardo Moura é cofundador e diretor executivo da ONG Pulse Mais

Garantir melhores oportunidades para todos ainda é um desafio enorme no Brasil, e a educação superior é uma das ferramentas mais poderosas para mudar esse cenário. Um diploma universitário pode abrir portas no mercado de trabalho, aumentar o potencial de ascensão profissional, e ainda, ajudar a reduzir desigualdades sociais. Mas o acesso à faculdade e, principalmente, a permanência nela, ainda não é para todos.

Mobilidade social, no fim das contas, é a possibilidade de melhorar de vida em relação às gerações anteriores, e está diretamente relacionada à mobilidade educacional. Portanto, a universidade tem um papel fundamental nisso. Quem consegue uma formação superior tem mais chances de conquistar empregos formais e bem pagos. O problema é que essa oportunidade não chega para todo mundo. Segundo o Censo da Educação Superior de 2023, só 25% dos jovens entre 18 e 24 anos entram na faculdade no Brasil.

Abandono ensino superior

Só que não basta entrar. É preciso conseguir ter incentivos de permanência e pertencimento para ficar até o final. Muitos estudantes abandonam o curso no meio do caminho, seja por dificuldades financeiras, falta de suporte acadêmico, por falta de motivação e saúde mental ou até mesmo pela sobrecarga de conciliar trabalho e estudos. Uma pesquisa do Instituto Semesp de 2023 mostra que metade dos universitários desiste antes de pegar o diploma.

Para mudar esse cenário, o país tem investido em políticas como cotas, financiamento estudantil e a expansão e qualificação do ensino público. No entanto, sabemos que as iniciativas governamentais, por si só, não são suficientes para enfrentar esse desafio. É nesse contexto que entra um ator essencial nessa transformação: o terceiro setor.

Papel do terceiro setor na educação

O terceiro setor vem desempenhando um papel decisivo nesse cenário, especialmente por meio de instituições sem fins lucrativos que oferecem capacitação, mentorias e suporte para jovens de baixa renda, preparando-os para ingressar no ensino superior e se manterem nele.

É um setor da economia que vem em evolução. Há, inclusive, organizações que já se especializaram, e trabalham a formação de profissionais para áreas estratégicas do mercado, como tecnologia e inovação, criando uma ponte entre a universidade e o mundo do trabalho.

O impacto dessas iniciativas é direto e transformador. Além de apoio financeiro e acadêmico, muitos desses programas ajudam a desenvolver habilidades socioemocionais e de liderança, algo fundamental para que esses jovens não apenas se formem, mas consigam crescer em suas carreiras e, no futuro, retribuir à sociedade.

Garantir que esses alunos consigam concluir a graduação exige medidas concretas, como bolsas de permanência para cobrir despesas básicas e programas de apoio acadêmico e psicológico. Quem chega à universidade vindo de um contexto de vulnerabilidade precisa de mais do que apenas uma vaga, precisa de estrutura para permanecer e se formar.

Impactos do ensino superior

O impacto do ensino superior vai muito além do indivíduo. Pessoas com mais estudo ganham melhores salários, rompendo o ciclo da pobreza e movimentando a economia. Uma pesquisa do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV Ibre), com dados do segundo trimestre de 2024, indica que trabalhadores com ensino superior completo ganhavam, em média, 126% a mais do que aqueles com ensino médio ou superior incompleto. Logo, quanto maior a escolaridade, maior tende a ser o salário do indivíduo. Além disso, um país com uma força de trabalho mais qualificada produz mais inovação e é mais competitivo no cenário internacional.

A educação superior é, sem dúvida, um dos caminhos mais eficientes para promover a mobilidade social no Brasil, mas ainda há um longo percurso pela frente.

O terceiro setor já tem mostrado seu impacto positivo e pode ser um aliado ainda mais forte nessa missão, além de conseguir potencializar seu impacto com o apoio de empresas do setor privado que querem somar nesse propósito. Ampliar as parcerias entre ONGs, empresas e governo é essencial para garantir que mais brasileiros tenham não só o direito à educação, mas a oportunidade real de transformar suas vidas por meio dela.