Coronel Ailton Cirilo é especialista em segurança pública

A segurança pública não pode mais ser vista apenas como um tema técnico ou um campo restrito às forças policiais. Ela é, sobretudo, uma demanda da cidadania. E, como tal, precisa ser discutida com empatia, responsabilidade e visão de futuro. Cada vez que uma mulher sofre violência doméstica, cada vez que um jovem perde a vida no trânsito ou um policial adoece em silêncio, o que está em jogo é a qualidade de vida de toda uma sociedade.

Falo com a experiência de quem esteve nas ruas, nos comandos e nas salas onde se tomam decisões. A realidade da segurança pública é complexa e cheia de nuances. É claro que precisamos de mais estrutura e de uma presença mais efetiva do Estado, especialmente nas áreas de fronteira – regiões que, infelizmente, continuam sendo pontos frágeis no combate ao crime organizado. Mas não se trata apenas de aumentar efetivos ou construir novas bases. É preciso articular políticas públicas que enxerguem o cidadão como centro da estratégia de segurança.

Não há desenvolvimento sustentável onde impera o medo. Cidades em expansão, como temos visto em diversas regiões do Brasil, só se consolidam como polos econômicos e sociais quando oferecem segurança real a seus moradores. Segurança que se constrói com presença policial, sim, mas também com educação, oportunidades, cultura e inclusão social.

Outro ponto que merece atenção urgente é a saúde mental dos profissionais da segurança. Os dados sobre suicídios entre policiais são alarmantes. Há muito tempo deixamos de ser apenas “linha de frente” – somos, muitas vezes, a última rede de proteção diante de um Estado fragmentado. E quem cuida de quem cuida? Precisamos de políticas de valorização que vão além do discurso: salários dignos, capacitação contínua, equipamentos adequados e, acima de tudo, apoio psicológico real e acessível.

A segurança também precisa sair das delegacias e entrar nas escolas, nas universidades, nas rodas de conversa. É preciso aproximar o conhecimento acadêmico da prática do dia a dia. Ainda existe um abismo entre o que se estuda nas salas de aula e o que enfrentamos nas ruas. E isso se reflete na falta de políticas públicas integradas, pensadas com base em evidências.

O trânsito, por exemplo, é um tema negligenciado. Mas, quando olhamos os dados, vemos que ele mata tanto quanto – ou mais – do que muitos crimes violentos. A juventude tem sido vítima de imprudência, negligência e falta de fiscalização. Falar de segurança viária é também falar de preservação da vida. É segurança pública, sim.

Encerro com a convicção de que não há respostas simples para problemas complexos. Mas existe um caminho possível: o do diálogo honesto, da escuta ativa e da construção conjunta. A segurança que queremos só será possível se a tratarmos como ela realmente é – um direito de todos e um dever do Estado, mas também uma responsabilidade compartilhada por toda a sociedade.