Carlos Miranda é doutor em engenharia de materiais, professor dos cursos de engenharia do Ibmec-BH
A pesquisa de mercado, tradicionalmente usada para entender o comportamento do consumidor e apoiar decisões empresariais, está passando por uma transformação profunda com o avanço da Inteligência Artificial (IA). Essa tecnologia permite coletar, processar e interpretar grandes volumes de dados com agilidade e precisão, mudando a forma como empresas analisam seus públicos, criam produtos e adaptam estratégias.
Antes limitada a entrevistas presenciais, questionários e análises manuais, a pesquisa de mercado ganhou novas possibilidades com o uso de algoritmos inteligentes. Técnicas como aprendizado de máquina (“machine learning”) e processamento de linguagem natural permitem identificar padrões de comportamento e emoções expressas nas redes sociais e prever tendências de consumo com alto grau de precisão. Isso torna possível antecipar preferências dos consumidores, personalizar ofertas e responder rapidamente às mudanças do mercado – algo impensável há poucos anos.
Estudos recentes mostram que a IA já é usada por empresas para melhorar a experiência do cliente, aumentar a fidelidade e otimizar campanhas publicitárias. Um levantamento comparativo de três pesquisas científicas revelou diferentes abordagens, mas com um ponto em comum: a IA tem ampliado significativamente a capacidade de entender o consumidor digital. Enquanto uma revisão teórica alerta para os riscos de usar modelos simplificados demais, uma análise sistemática mostra como o uso inteligente da IA pode gerar resultados financeiros expressivos. Já um estudo empírico com mais de 12 mil registros de navegação demonstra, na prática, como dados reais guiam decisões sobre o design de páginas, jornada de compra e até linguagem de comunicação.
Entre as vantagens mais citadas estão a personalização em grande escala, a automação de tarefas repetitivas e a tomada de decisões baseada em dados atualizados, em vez de suposições. A IA permite que empresas conheçam seus clientes em profundidade, segmentem melhor seus públicos e façam recomendações personalizadas que aumentam as chances de conversão. Além disso, possibilita testes e ajustes em tempo real, algo fundamental em um ambiente de consumo cada vez mais dinâmico.
Mas os desafios também são relevantes. É preciso garantir a qualidade, integridade e privacidade dos dados utilizados, respeitando legislações como a LGPD. Outro obstáculo é a complexidade dos modelos, que nem sempre são compreensíveis para os gestores que tomam decisões. Por isso, especialistas ressaltam que a IA não substitui a análise humana – ela a complementa, liberando tempo para decisões mais estratégicas, criativas e sensíveis ao contexto.
Com o uso crescente de sistemas preditivos e análises automatizadas, a pesquisa de mercado deixou de ser apenas uma ferramenta de diagnóstico e passou a ocupar um papel central no planejamento de negócios. Empresas que adotam soluções baseadas em IA conseguem agir com mais precisão, antecipar comportamentos e oferecer experiências mais relevantes e personalizadas aos consumidores, o que contribui diretamente para o aumento da competitividade.
O futuro aponta para uma integração ainda maior entre IA e pesquisa de mercado. A tendência é que essas ferramentas se tornem mais acessíveis não só às grandes corporações, mas também a pequenos e médios negócios, democratizando o acesso à inteligência de dados. Em um mercado cada vez mais digital, dinâmico e competitivo, a IA se consolida como uma aliada essencial para decisões mais rápidas, eficazes e centradas no consumidor – o verdadeiro protagonista desta nova era.