Euler Vespúcio é jornalista e advogado
Desde os anos 1980, o Brasil vem modernizando sua estrutura bancária. Primeiro, com a compensação eletrônica de cheques, que acelerou processos em plena hiperinflação. Depois, com a digitalização do atendimento e a instalação de caixas eletrônicos, que reduziram custos operacionais e mudaram a forma de relacionamento com os clientes. O salto mais recente e transformador foi em novembro de 2020, quando o Banco Central criou o Pix – sistema público de pagamentos instantâneos que redesenhou o fluxo financeiro do país.
Gratuito para pessoas físicas, disponível 24 horas por dia e de uso simples, o Pix permitiu que milhões de brasileiros – incluindo microempreendedores, autônomos e moradores de regiões sem agências – passassem a movimentar recursos pelo celular com rapidez e segurança. Em julho de 2025, o sistema contava com 175 milhões de cadastrados e registrou 6,5 bilhões de transações no mês, superando a soma de TEDs, DOCs, boletos e cheques.
O alcance do Pix despertou reações de empresas norte-americanas do setor de pagamentos, que perderam faturamento e receitas no Brasil. A pressão resultou na abertura de investigação pelo Escritório do Representante de Comércio dos Estados Unidos, sob a alegação de que o modelo brasileiro impõe barreiras à concorrência internacional. A disputa revela um conflito: de um lado, um sistema de acesso universal e sem custo; de outro, um mercado baseado em taxas e regras definidas por corporações privadas.
Essa ofensiva externa traz ao centro do debate a soberania nacional na gestão de serviços financeiros estratégicos. O Pix não é apenas uma ferramenta de transações: é infraestrutura crítica, que fortalece a inclusão bancária, reduz a circulação de dinheiro vivo e formaliza atividades econômicas. Subordinar o sistema a interesses externos significaria ceder parte da autonomia regulatória do país e comprometer ganhos sociais e econômicos consolidados.
Proteger e expandir o Pix é um imperativo estratégico. Uma alternativa seria criar uma empresa pública nacional para gerir a plataforma e desenvolver funcionalidades, como compras parceladas, integração com sistemas de crédito e antecipação de recebíveis, mantendo o controle no território brasileiro e adaptando o serviço às necessidades locais.
O Pix já se firmou como símbolo de inovação e como ativo econômico relevante para o Brasil, sendo inadmissível a interferência externa para redirecionar ou descontinuar o seu uso. A prioridade agora é blindar essa conquista contra pressões externas e garantir que continue a servir como instrumento de desenvolvimento e afirmação da soberania financeira do país. Além disso, essa inovação tecnológica é um exemplo para a implantação de outras ferramentas que alavanquem o desenvolvimento nacional em todos os sentidos.