Ari Francisco de Araujo Junior é coordenador do curso de ciências econômicas do Ibmec BH

O debate sobre protecionismo ganhou força nos últimos anos, especialmente após medidas adotadas pelo governo Trump nos Estados Unidos. Embora o protecionismo seja frequentemente criticado por seus efeitos negativos sobre o comércio internacional e o bem-estar das populações, é importante refletir sobre como essas práticas se manifestam em diferentes países – inclusive no Brasil.

Qualquer protecionismo é ruim? Sim! O americano e o brasileiro. Utilizando o Trade Imbalance Index, elaborado pela Information Technology & Innovation Foundation – que avalia práticas comerciais de 48 das maiores economias do mundo, considerando 11 indicadores distribuídos em quatro áreas (balança comercial de bens e serviços de informação, restrições comerciais, tributos e regulações e propriedade intelectual) –, vamos avaliar o histórico “tarifaço” brasileiro contra os EUA.

O Brasil aparece com uma pontuação de -3,32, sendo a sétima pior posição entre os países analisados. Apenas China, Índia, União Europeia, Vietnã, Argentina e Tailândia apresentam distorções maiores. Os principais fatores que contribuem para essa colocação são as tarifas médias elevadas e as barreiras não tarifárias, que criam vantagens comparativas artificiais e distorcem o ambiente de negócios.

Em 2023, a balança comercial brasileira registrou um déficit de US$ 7,1 bilhões com os EUA, evidenciando a fragilidade da relação comercial entre os dois países. Num contexto de distorções menores, o déficit seria maior. Especificamente, a tarifa média simples brasileira era de 12,4%, a quarta mais alta entre os países avaliados, enquanto a pontuação em barreiras não tarifárias é de 4,5, também entre as mais elevadas. Além disso, o país enfrenta desafios na proteção efetiva da propriedade intelectual.

Essas distorções têm impactos diretos na relação Brasil-EUA. Como fornecedor relevante de produtos como soja, carne bovina, café e suco de laranja, o Brasil depende do mercado americano, que também é fonte de investimento e tecnologia. Tensões comerciais podem afetar setores estratégicos, como agricultura e inovação, tornando urgente a redução de barreiras e o fortalecimento da cooperação bilateral.

Uma avaliação preliminar sobre os efeitos internos do tarifaço destaca que 56,5% das exportações brasileiras (US$ 23,9 bilhões) estão sujeitas a taxações mais elevadas, enquanto 43,5% (US$ 18,4 bilhões) enfrentariam as tarifas menores. Os impactos se estendem a emprego, renda, balanço de pagamentos e vulnerabilidade externa.

Por fim, podemos discutir o papel do governo diante das dificuldades enfrentadas por empresas. A proposta de socorro estatal é questionada, com argumentos sobre a responsabilidade fiscal e os riscos de perpetuar políticas de apoio que podem comprometer a sustentabilidade da dívida pública. A sugestão é agir com responsabilidade, reconhecendo os problemas e evitando a negação.

Em síntese, o Brasil precisa repensar sua política comercial, buscando equilíbrio entre proteção e abertura, para garantir competitividade, atratividade internacional, estabilidade econômica e bem-estar da população. O caminho passa por negociações bilaterais, reformas estruturais e uma postura mais estratégica frente ao cenário global.