Júnia Maria de Sousa Lima Galvão é diretora-executiva de administração e desenvolvimento humano da MRV&CO

Os debates sobre saúde e bem-estar têm ganhado protagonismo nas agendas da sociedade, das organizações e da mídia. Canais digitais tornaram-se ambiente de disseminação de práticas ligadas ao equilíbrio psíquico, como técnicas de respiração e atenção plena. A popularização do tema aponta para o avanço de quadros relacionados ao estresse crônico. Diversos fatores contribuem para esse contexto, mas um, em especial, se mostra recorrente: o impacto do trabalho na saúde mental.

Pesquisa da Wellhub, plataforma de bem-estar corporativo, revelou que 47% dos colaboradores identificam o estresse no trabalho como a principal causa do declínio da saúde mental. Se a rotina profissional tem responsabilidade, cabe às empresas assumir um papel proporcional. O mais interessante – no estudo com mais de 5.000 colaboradores de nove países, entre maio e junho de 2024 – é constatar como o bem-estar integral se tornou prioridade: 88% consideram o apoio à qualidade de vida tão importante quanto o salário, algo impensável até pouco tempo.

Hoje, empregadores e colaboradores estão do mesmo lado. Não há empresa com saúde financeira sólida sem profissionais em equilíbrio físico, emocional e social. Vários estudos reforçam: equipes felizes são até 30% mais produtivas, três vezes mais criativas e registram menos rotatividade. Cabe ao gestor ser “termômetro do humor”: cerca de 70% da percepção de felicidade no trabalho é atribuída ao gerente direto.

Embora a MRV seja uma empresa de grande porte, não abrimos mão do “olho no olho”. O presidente e os executivos percorrem obras, lojas e frentes de serviço para conversar com as equipes e observar de perto os desafios. A escuta ativa, sem tantas formalidades, reduz distâncias hierárquicas e fortalece decisões mais humanas, alinhadas à realidade do negócio. É durante esses encontros que muitas vezes surgem demandas e ideias para projetos.

Reunimos problemas e soluções em um grande pacote chamado “Ser Sangue Verde” – um guarda-chuva com mais de 20 iniciativas de bem-estar e valorização dos colaboradores. O projeto inclui acolhimento psicológico dentro do horário de trabalho, benefícios como condições facilitadas para aquisição de imóveis, acompanhamento e orientação às gestantes, além da extensão da licença-paternidade. Um combo de cuidado que, no fim, beneficia os dois lados.

Mas será que isso basta para engajar um time? Ainda que represente muito, falta a cereja no bolo: a perspectiva de crescimento. Oferecer oportunidades para crescer na carreira – dentro ou fora da empresa – também promove bem-estar. Fazemos isso com programas de capacitação contínua, desenvolvimento de lideranças e aceleração de carreira. Temos, inclusive, um núcleo de educação dedicado a fortalecer a autoestima intelectual de nossos colaboradores.

Pesquisas de satisfação são úteis para mensurar resultados, mas a cultura de acolhimento exige também uma escuta individualizada e empática dos gestores. Em certos momentos, é preciso se afastar para enxergar a engrenagem em movimento. Só então nós percebemos que pequenas iniciativas, somadas, ganham proporções colossais – criando ambientes de trabalho saudáveis, equipes engajadas e empresas capazes de crescer com propósito.