Acílio Lara Resende

O sistema eleitoral não é a principal causa das crises

Regime democrático, pandemia e auxílio aos pobres


Publicado em 20 de agosto de 2020 | 03:00
 
 
 
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Amigo de algumas décadas, afastado dos bate-papos que antes mantínhamos, por justificável medo do coronavírus e – o que é meritório – por respeito ao próximo que podemos infectar (ninguém sabe, com antecedência, se somos e quando somos veículo ou não do inimigo invisível), acredita que o presidente Jair Bolsonaro é consequência, e não causa, dos nossos problemas atuais. E que o pior deles é o “sistema eleitoral” em vigor no país, responsável, conclui, pelos maus candidatos e, portanto, pelos maus políticos e/ou maus gestores da coisa pública.

O sistema eleitoral brasileiro (Jair Bolsonaro nunca foi “dono de partido”, mas foi filiado a nove deles), como todo sistema elaborado pelo ser humano, deixa sempre a desejar. Ele serve mal ao regime democrático eleito, uma vez mais, no dia 5 de outubro de 1988, quando da promulgação da “Constituição Cidadã”, assim denominada pelo então presidente da propositadamente esquecida (por muita gente) Assembleia Nacional Constituinte, deputado Ulysses Guimarães, que também foi presidente da Câmara Federal duas vezes. Importante dizer que a Constituição a que me refiro foi promulgada após 21 anos de regime militar, quando se reinaugurou uma “nova ordem democrática”.

O bipartidarismo já existiu no Brasil, imposto pelo regime militar que então mandava no país. Um desastre, que nos levou de novo ao pluripartidarismo, que é imperfeito e necessita de correções.

A maior nação democrata do mundo mantém o primeiro e, provavelmente, em consequência dele e, certamente, do presidente Trump, que “os delegados” (imaginem se essa “esquisitice” existisse entre nós) elegeram (e não o povo), vive momentos realmente difíceis, considerados de risco à diminuição da plena estabilidade democrática.

O assunto é complexo e não pode ser tratado em poucas linhas, mas não erra quem diz que Jair Bolsonaro é causa e consequência das graves crises por que passa hoje o país: não soube (nem sabe) liderá-lo no combate ao coronavírus e ainda representa um perigo à democracia quando defende um projeto autoritário de governo.

Quanto à primeira, e graças a governadores e prefeitos, eis a sensata análise da cientista Margareth Dalcolmo, da Fiocruz: “Os próximos meses devem nos trazer o arrefecimento da epidemia e imunidade comunitária, porém os cuidados de higiene e uso de máscaras estarão incorporados ao nosso quotidiano por muito tempo”. Um alívio!

Quanto à segunda, leitor, muita atenção – e só isso ainda será pouco – à associação entre a presença maciça de militares no governo e a iniciativa populista de implantação de novo “auxílio aos pobres”, chamado agora de “Renda Brasil”. Essa aliança, puramente ideológica, pode nos reconduzir ao que muitos de nós já sofremos.

É aí que mora o busílis.

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