A morte do gari Laudemir de Souza Fernandes, assassinado em uma confusão de trânsito, causa consternação na população belo-horizontina em razão das circunstâncias sobre o crime até então reveladas. 

O enredo expõe de forma dolorosa um retrato conhecido, mas frequentemente ignorado, da realidade brasileira: a intolerância e a violência no trânsito.

Pesquisa realizada no ano passado pela plataforma Preply, especializada em comunicação, aponta que sete em cada dez pessoas já presenciaram agressões verbais de outros motoristas ou transeuntes – violência da qual 40% da população também foi vítima direta ao menos uma vez.

O espaço que deveria ser compartilhado com paciência, regras claras e respeito mútuo tem se tornado, para muitos, um palco de conflitos impulsivos e reações desproporcionais. Não são raros os episódios em que uma ultrapassagem, um atraso ou um bloqueio momentâneo se convertem em brigas, ameaças e, tragicamente, mortes.

Em Belo Horizonte, assim como em outras grandes cidades, a pressa cotidiana, somada à falta de educação no trânsito e à impunidade, cria um ambiente hostil. Somam-se a isso as frustrações pessoais e o preconceito que permeiam todos os ambientes, e não seria diferente no tráfego.

A dinâmica das relações no trânsito, inclusive, tende a potencializar as tensões de classe e as relações de poder. É uma questão cultural, comportamental, em que o indivíduo não consegue compartilhar com outros um espaço público de maneira civilizada. Urge, portanto, uma mudança de mentalidade na formação dos motoristas. 

No caso de Laudemir, a presença de um caminhão de coleta de lixo, indispensável à limpeza da cidade, foi suficiente para desencadear um ato extremo.

O episódio revela um sintoma de uma sociedade intolerante. A resposta das autoridades deve vir em forma da elucidação do caso e da educação de trânsito, afastando o sentimento de impunidade presente nas ruas.