A confirmação do tarifaço de 50% às exportações brasileiras aos EUA, ontem, foi um choque de realidade, apesar da isenção a mais de 700 produtos, representando um cenário mais benigno do que o mercado temia. As tratativas, embora tenham ganhado corpo nos últimos dias, não surtiram efeito prático diante da estratégia do presidente Trump.

Desde o anúncio do tarifaço, em 9 de julho, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva buscou transformar o episódio em uma bandeira política doméstica. Nesse período, à medida que Lula subia o tom nos discursos, os ministros Fernando Haddad, Geraldo Alckmin e Mauro Vieira atuavam com mais pragmatismo, tentando minimizar os danos. A missão senatorial que viajou aos EUA reforçou esse esforço diplomático, ainda que já fosse tarde diante da decisão unilateral de Trump.

O pano de fundo da medida é ainda mais espinhoso: o governo brasileiro parece ter sido capturado na lógica de Trump de atrelar a pressão comercial ao avanço das investigações contra Jair Bolsonaro no Brasil. A vinculação, ainda que informal entre os dois assuntos, enfraquece a posição diplomática brasileira e confere um caráter de retaliação política ao tarifaço.

O problema, no entanto, é mais profundo. A baixa margem de manobra do Brasil se explica por uma postura histórica avessa à integração internacional e que se intensifica no governo atual. Segundo o Banco Mundial, o país lidera o ranking global de barreiras tarifárias, o que o torna pouco competitivo. Esse fator se soma a outro baita problema interno: a crise fiscal.

Com as tarifas em vigor, o caminho agora é fortalecer negociações setoriais. A isenção de alguns produtos, como ferro-gusa e alimentos, é uma boa notícia do decreto de ontem, mas os impactos em setores-chave, como o da agricultura, são inegáveis.

A primeira lição do tarifaço deve ser a de que o Brasil precisa rever sua política comercial, abrir-se ao mundo com inteligência e assumir o custo político de reformas estruturais que tardam há décadas. Caso contrário, continuará refém das potências que sabem usar as vulnerabilidades dos países em desenvolvimento.