A sociedade está abalada com o assalto a uma agência do Banco do Brasil em Uberaba, no Triângulo Mineiro, na última quinta-feira. Com armamento pesado, entre 20 e 30 homens levaram pânico à cidade, de madrugada, fazendo reféns e ferindo moradores. No final, “limparam” os caixas da agência bancária e fugiram; cercados pela polícia, dez homens foram presos.
“Sempre que o país mergulha em crises de caráter social e econômico, com desemprego alto, há um aumento da criminalidade”, afirmou um diretor da Federação Nacional das Empresas de Segurança e Transporte de Valores. Estados mais ricos, Minas e São Paulo lideram os ataques a caixas eletrônicos. Só neste ano, foram 37 aqui e 37 em São Paulo.
Por meio de seus representantes, incluída a imprensa, a sociedade interpreta a violência e a frequência desses ataques como casos de polícia a exigir repressão e prevenção, tendo em vista demover seus autores de novas iniciativas. É preciso, no entanto, investigar as razões por que as pessoas estão delinquindo e não veem outra alternativa senão o crime.
O Brasil vive uma crise social que tem raízes históricas e que vem se agravando nas últimas décadas. A economia vai mal, sem perspectivas de retomada do crescimento no curto prazo. O ano de 2019 parece ser outro ano perdido. Mais de 33 milhões de pessoas estão sem trabalho, sem possibilidades de ingresso no mercado de consumo. Uma grande parte desses trabalhadores é formada de jovens.
Para essas pessoas, as oportunidades que o Brasil oferece são nenhuma. Quem pode, vai embora para outro país. Uma grande parte de nosso capital humano é descartada. Imprestável, quem fica é tomado pelo desalento e pelo desespero. Não surpreende que, diante desse quadro, o crime seja a única saída. Para os bandidos de Uberaba, “a propriedade é um roubo”.
A crise do pacto social está minando o regime. Para o cientista político Adam Przeworski, a democracia está se matando aos poucos.