“Eu não sou racista, mas...” Quase tudo o que vem depois dessa conjunção na fala de alguém deveria chegar aos ouvidos do outro como ruído sem sentido. Racismo, definido pelos dicionários como “conjunto de teorias e crenças que estabelecem uma hierarquia entre as raças”, não deveria encontrar espaço no nosso mundo.

Não importam os termos jurídicos, as punições possíveis, as burocracias para que uma acusação vá adiante: achar que um é menos que o outro por causa de sua cor ou aparência é desumano.

Se esse comportamento aparece em hotéis, consultórios, elevadores e restaurantes, onde as pessoas estão em ambiente relativamente calmo, nas práticas esportivas ele eclode como ferida purulenta da sociedade doente.

Já virou uma triste rotina ver jogadores de futebol hostilizados em campo, como aconteceu nos últimos meses com o brasileiro Dalbert, da Fiorentina, com o jovem belga Lukaku e com o italiano Balotelli, levado pela vida a se tornar símbolo do combate ao racismo na Itália.

Em um desses episódios, na Itália, o presidente da Fifa, Gianni Infantino, declarou que é preciso identificar os autores e expulsá-los dos estádios. Por aqui, tivemos nosso momento particular de vergonha no último fim de semana. A intenção de punir também existe. A PM afirmou que está trabalhando “no sentido de punir o CPF, individualizar os crimes”. Que puna.

Porém, a atuação das forças de segurança não pode eximir os clubes de responsabilidade. Eles não têm o poder de controlar as multidões, mas estão diante da obrigação moral de fazer campanhas, dificultar o acesso dos “criadores de problemas”, expulsar sócios, enfim, de agir. O torcedor que cospe em outro ser humano está cuspindo, na verdade, na camisa de seu clube, para sempre manchada pelo preconceito.