Alertas da alta do PIB

O crescimento de 1,1% do Produto Interno Bruto (PIB) em um ano não surpreendeu o mercado, que havia cravado o índice há poucos dias, muito menos o governo, que revisara sua previsão para 1,2% em dezembro do ano passado. Apesar de os dados trazerem algumas boas notícias, preocupam o fato de este ser o mais baixo índice em três anos e os obstáculos à vista para se atingir a meta de 2,2% neste ano.

Com os gastos do governo encolhendo, coube à iniciativa privada sustentar a evolução da economia, principalmente por meio da agropecuária (1,3%), dos serviços (1,3%) e de um início da recuperação da indústria (0,5%).

Mas essa boa notícia, paradoxalmente, é também uma fragilidade, diante do alerta de recessão global pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) para 2020. Desde janeiro, o mercado chinês, um dos impulsionadores do comércio mundial, reduziu em quase 96% a movimentação de contêineres em seus portos, e um terço dos envios para o Brasil foram cancelados, segundo dados da consultoria Solve Shipping. São componentes de eletroeletrônicos e insumos processados que farão falta à indústria de transformação brasileira – que, segundo os dados do PIB, ficou praticamente estagnada (0,1%) no ano passado.

A mineração, em que os resultados do ano (-1,1%) foram arrastados para baixo pela tragédia de Brumadinho, ainda lidará com demanda e preço em queda livre (menos de US$ 83 a tonelada). Nem a agricultura está isenta de riscos, com a redução de compras de soja e milho (que cresceu 23% no ano passado) pela China.

Mais do que comemorar um frágil avanço, o governo precisa amparar os investimentos privados, reais responsáveis pelo PIB, fortalecendo o ambiente de negócios e retomando as reformas.