Em 30 de dezembro de 1976, Ângela Diniz, “a pantera de Minas”, foi assassinada com quatro tiros por seu namorado, Doca Street. Enciumado e inconformado, ele alegou “defesa da honra”. Do lado de fora do fórum, no julgamento, cartazes diziam “Doca, Cabo Frio está com você”.

Em 1982, a TV Globo exibiu os dramas de cinco casais na minissérie “Quem Ama Não Mata”. Todos lidavam com ciúme por parte do homem, desejo de independência manifestado pela mulher, divergências em relação a trabalho e filhos. 

Nas décadas que se passaram desde esses crimes, tanto o real quanto o da ficção, o brasileiro acrescentou feminicídio ao seu vocabulário, os casos de agressão e assassinato de mulheres deixaram de receber a alcunha de “passionais” e são fatos cada vez mais denunciados à polícia e divulgados pela imprensa. Mas...

O fato é que continuam acontecendo e em tal proporção que vídeo de cachorro sendo agredido viraliza e comove mais que notícias de mulheres espancadas, esfaqueadas ou baleadas por companheiros ou pretendentes. Vemos tanto, todo dia, que o crime mal nos afeta.

Isso não é amor. É sentimento de posse alimentado pelo machismo e cultivado pelo ar blasé com que olhamos para essas mulheres na TV, na casa ao lado ou dentro dos nossos próprios lares.

Há exatos 20 anos, a Organização das Nações Unidas (ONU) instituiu o Dia Internacional de Luta contra a Violência sobre a Mulher. Em 2010, foi criada a ONU Mulheres. Maria da Penha, no Brasil, emprestou seu nome à lei mais emblemática da proteção dos direitos femininos em 2006.

Todos esses esforços ainda são insuficientes. Em 2018, uma mulher foi assassinada a cada oito horas no país. Neste ano, o noticiário trágico continua forte. A sociedade, para se chamar de civilizada, precisa virar essa página.