Editorial

Cidadania na mão

Celular nivela as pessoas


Publicado em 17 de novembro de 2019 | 03:00
 
 
 
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Para você, que lê este texto, a linha da pobreza é, provavelmente, um conceito teórico. Uma estatística comovente, mas distante. Entretanto, para as 52,5 milhões de pessoas que, segundo o IBGE, vivem no país com menos de R$ 420 per capita por mês, ela é a linha que marca a distância entre a comida e a barriga, que faz atravessar a cidade a pé por falta de dinheiro para a passagem, que obriga o indivíduo a equipar a casa ou o barraco com móveis catados no lixo.

O que impressiona, neste século da conectividade inteligente, não é a miséria, porque ela sempre existiu. São as escolhas que os miseráveis fazem: 91,4% da população brasileira abaixo da linha da pobreza possui celular.

Numa rotina em que falta alimento e remédio, escolher gastar parte da renda com o pagamento da conta ou dos créditos do telefone diz muito sobre o ser humano. Não se trata de futilidade, como os julgadores de plantão podem pensar. É questão de dignidade.

O celular, hoje, é uma conexão direta com o mundo. O morador de rua, de endereço incerto, está ao alcance da família. O pobre, em seu barracão, acompanha as notícias do mundo. O adolescente da comunidade se iguala ao do condomínio fechado quando exerce o mesmíssimo direito de postar suas selfies.

Com um smartphone na mão, as minorias, que nem sempre são bem-vindas quando entram numa repartição pública, têm uma arma de denúncia, de reivindicação de direitos, de solicitação de serviços. A eles, a quem quase tudo é negado, o celular dá a sensação de pertencimento, de ter um lugar no mundo. Para isso, não faz diferença ser o aparelho top de linha ou um que tenha apenas funções mínimas. O importante é que, ao contrário de quase todo o resto em nossa sociedade, o celular iguala e nivela.

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