É possível estar em isolamento social sem ficar alheio aos dramas da sociedade. Isso é o que várias iniciativas voluntárias, de cidadãos comuns, vem mostrando em meio à pandemia. “Veio aquele choque de realidade, porque eu estava no conforto da minha casa enquanto tinha tanta gente na rua”, diz o contador Randolfo Moreira Bastos, idealizador de uma dessas ações em Belo Horizonte.
Esses voluntários comprovam que a solidariedade não exige eventos espetaculares. São atos cotidianos e discretos, como a distribuição de um café da manhã, uma marmita, um cobertor para passar a noite e, principalmente, a oferta de um sorriso e de conversas fraternas.
A pandemia agravou o problema estrutural da desigualdade na sociedade. A estimativa é que, na América Latina, pelo menos 569 milhões de pessoas tenham sido jogadas na pobreza com a desaceleração da economia devido ao coronavírus. No Brasil, o número de desempregados subiu para 12,9 milhões no primeiro trimestre deste ano, segundo dados do IBGE. E o instituto de pesquisas Economist Intelligence Unit calculou que a renda média do brasileiro ficará 18% abaixo da média mundial devido à pandemia.
Até o fim do ano passado, 13,5 milhões de pessoas viviam no país com menos de R$ 10 por dia. Mesmo sem as estatísticas atualizadas, é certo dizer que esse número é muito maior hoje, com indústrias, comércios e serviços em compasso de espera, o que contribui para que o vírus não se espalhe e cobre mais vítimas.
Ainda que não substituam políticas públicas consistentes e abrangentes – e nem pretendam isso –, essas ações solidárias têm a capacidade de mostrar a essa multidão de desassistidos que eles não estão sós e que o bem pode ser mais poderoso e contagioso que o próprio vírus.