Guerra de discursos

O anúncio da eficácia geral da Coronavac feito ontem pelo governo do Estado de São Paulo deu início a mais uma batalha na guerra de narrativas envolvendo a Covid-19 e a vacina contra a doença. Na internet, parte dos formadores de opinião, políticos e militantes protagonizaram um verdadeiro vale-tudo para interpretar os dados de forma a afirmar suas teses. Por outro lado, há vozes sensatas que procuram explicar de maneira didática os resultados dos testes com a vacina – um trabalho árduo. 

No meio disso tudo, está o cidadão que quer e precisa compreender a importância da imunização e quando ela vai começar. Para chegar até ele, os governos estadual e federal precisa adotar uma comunicação objetiva e eficiente. O governo do Estado de São Paulo parece ter cometido algumas falhas na condução do processo de transmissão dos dados para a população. E, em um país com altos índices de analfabetismo funcional como o Brasil, erros na comunicação podem fomentar o descrédito em relação à ciência e prejudicar a imunização. Principalmente no momento em que o negacionismo está assanhado, esperando qualquer brecha para atrair novos adeptos.

Um exemplo de como a desinformação pode ser prejudicial é a matança de macacos no último surto de febre amarela no Brasil, em 2017. Moradores de várias regiões do país passaram a exterminar os primatas acreditando que eles eram responsáveis por transmitir a doença diretamente aos seres humanos, o que não é verdade. 
A ciência é baseada em tentativa e erro, comporta o debate e está sujeita a revisões. Mas isso não dá a ninguém, principalmente a autoridades públicas, o direito de mentir e agir de má-fé para turvar a visão do povo. Ainda mais quando vidas estão em jogo.