“Não honrar a velhice é demolir de manhã a casa onde vamos dormir à noite”. A frase cunhada pelo novelista Jean-Baptiste Alphonse Karr para a França do século XIX é um alerta para o Brasil do século XXI. Atualmente, 15,1% da população brasileira tem 60 anos ou mais. Mas os 30 milhões de idosos – mais do que o número de habitantes de Minas Gerais, o segundo Estado mais populoso do país – seguem discriminados, quando não completamente invisibilizados.

A lei 10.741, o Estatuto da Pessoa Idosa, que completou 20 anos no domingo, dia 1º, garante diversos direitos, entre eles o direito ao trabalho, mas a faixa representa somente 7% da mão de obra empregada, de acordo com o IBGE. Reflexo de uma sociedade que, em sua maioria, vive na baixa renda ou na pobreza e que a passos largos está envelhecendo.

Um resultado dessa combinação é que sete em cada dez aposentados continuam trabalhar (no mercado formal ou na informalidade), de acordo com levantamento da Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas (CNDL) e do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC). Além disso, 52% são os principais responsáveis pelo sustento da casa (nove pontos percentuais a mais do que na pesquisa feita em 2018).

Mesmo representando uma parcela significativa e crescente da sociedade, não há o devido acolhimento dos idosos no mercado de trabalho. De acordo com as consultorias Ernst&Young e Maturi, 78% das empresas brasileiras admitem terem barreiras para contratar profissionais depois que eles completam 50 anos.  A explicação é apontada em outra pesquisa, da Fundação Getulio Vargas e PWC, na qual 70% das empresas afirmam que trabalhadores mais velhos são excessivamente caros e 69% delas afirmam que eles não se adaptam às mudanças. 

Esses são argumentos contraditórios que ignoram o valor de capital da experiência; explicitam a incapacidade das próprias empresas de reconhecer e reagir às transformações do mercado, e reproduzem um preconceito que ignora o passado, mina o futuro e não honra aqueles que persistem em contribuir para um país melhor.