Era inevitável que a soberba subisse, em alguma momento, à cabeça de quem faz parte do grupo político que está na iminência de eleger o futuro presidente da República do Brasil. Nesses momentos, a cautela recomenda que, ao contrário, o vencedor não tripudie sobre o vencido.
Pois não foi isso o que ocorreu a um dos filhos do candidato Jair Bolsonaro, Eduardo, eleito deputado com o maior número de votos do país. Numa aula, quatro meses atrás, provocado por um aluno, ele afirmou que, para fechar o Supremo, bastavam um cabo e um soldado.
O episódio veio à luz agora, com a divulgação de um vídeo pelas redes sociais. O fato provocou estupefação, embora também fosse minimizado. O candidato afirmou que “já advertiu o garoto”, e seu vice, General Mourão, considerou a “boutade” um “arroubo juvenil”.
Num momento conturbado como o atual, era o que faltava para “jogar mais gasolina no fogo”, não fosse o fato de as instituições estarem em pleno funcionamento, apesar dos ataques que diuturnamente recebem, vindos de todas as partes, inclusive das mais improváveis.
O presidente do Supremo, ministro Dias Toffoli, se pronunciou, ontem, afirmando, numa nota em defesa da Corte, que “atacar o Judiciário é atacar a democracia”. Mais duro, o decano Celso de Mello afirmou que a fala é “inconsequente e golpista”.
Tudo indica que ela foi pronunciada dentro de um contexto favorável à emissão de bravatas. O deputado caiu numa cilada, é fato, mas a má nota denuncia um ato falho, detonado pelo inconsciente, revelador do pensamento vigente em certos indivíduos e grupos.
Este é o perigo que ronda a democracia, hoje e em qualquer tempo, representado pelos que não recuariam de certas atitudes para que prevalecesse sua vontade. Contra esses atentados, o remédio é um só: mais democracia, mais Estado de direito, mais instituições sólidas.
O Brasil vai vencer esse transe e dele sairá certamente mais forte.