O que pensar quando um país que tem enfrentado repetidas crises hídricas desde 2014 joga fora todos os dias o equivalente a 7,8 mil piscinas olímpicas de água tratada? É isso que representa os 40,1% de desperdício revelados pelo estudo do instituto Trata Brasil divulgado nesta quarta-feira. Desse total, seis em cada dez litros são perdidos por vazamentos e outros problemas na ligação das estações até as casas.

O Brasil, que já foi considerado popularmente “a caixa d’água” do planeta tem perdido significativamente essa capacidade devido aos efeitos climáticos e ação humana. O Monitor da Fiscalização do Desmatamento da organização MapBiomas revelou que o país perdeu 3,4 milhões de hectares de sua superfície de água entre 1991 e 2020. Isso torna ainda mais valiosa cada gota tratada que chega aos domicílios.

Infelizmente, 35 milhões de brasileiros não têm acesso a água tratada, ficando sujeitos a doenças como cólera, gastroenterites, amebíases, diarreia e outras. A estimativa da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária é que  40 mil internações foram causadas por males ligados à falta de saneamento, ocupando 4,2% dos leitos do SUS, apenas no primeiro trimestre de 2020.

Outro levantamento, divulgado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) neste ano, revela que os afastamentos ao trabalho por conta de doenças causadas pela má qualidade da água causam um prejuízo anual de R$ 2,7 bilhões.

O Trata Brasil calcula que, se o Brasil reduzir as perdas de 40,1% para 25% – índice similar ao de um país como o Iraque – seria possível levar água tratada para mais 40,4 milhões de pessoas. Para tal, seria necessário investir R$ 26 bilhões, o que, além de melhorar a qualidade de vida da população, renderia retorno financeiro de R$ 53 bilhões em dez anos. Não vale a pena tentar?