Desvincular a corrupção da imagem do Brasil fica cada vez mais difícil à medida que os mecanismo de controle apresentam falhas e os escândalos se acumulam. É o que mostra o Índice de Percepção da Corrupção (IPC) 2023 divulgado ontem. O país ocupa a 104ª posição, quatro lugares abaixo do levantamento realizado em 2022.

O estudo leva em conta a análise de empresários e especialistas sobre a integridade do serviço público de 180 países. Quanto melhor a posição no ranking, menos o país é considerado corrupto. Entre os países das Américas, o Brasil ficou atrás, por exemplo, de Uruguai, Chile, Cuba e Argentina.

A colocação do Brasil nesta edição é a pior desde 2012, mas o país sempre atingiu pontuações baixas desde 1995, quando o ranking começou. Os números traduzem a percepção que o mundo e os próprios brasileiros têm do país. Um dos resultados dessa má fama é o afastamento de potenciais investidores. 

A mudança dessa imagem negativa passa não só pela repressão, mas também pela prevenção. Esse talvez seja o calcanhar de aquiles do país no trato com o dinheiro público. Apenas 2% das organizações públicas do Brasil têm um sistema de proteção adequado para combate a fraudes, de acordo com o Tribunal de Contas da União (TCU). 

O combate à corrupção no Brasil tem sido marcado por avanços e retrocessos. As iniciativas corajosas são muitas vezes dragadas pelo ambiente já acomodado com os desvios. Pesaram negativamente para o Brasil nesta edição do IPC, por exemplo, a indicação de Cristiano Zanin ao STF e a manutenção das chamadas “emendas do relator”. 

Entre os eventos positivos na guerra contra as fraudes se destacam as indicações técnicas para postos-chave da Polícia Federal e a reforma tributária, que tem o potencial de aumentar a transparência.

A solidez institucional está na base do desenvolvimento de uma nação. Fiscalizar e exigir transparência são tarefas que envolvem inúmeros órgãos e, claro, a população, como parte mais interessada.