A produção industrial brasileira retraiu 0,2% em julho e, com isso, a perda acumulada desde abril chega a 1,5%, de acordo com os dados divulgados nesta quarta-feira (3/9) pelo IBGE. A principal responsável por essa má notícia – a mesma culpada pela desaceleração do PIB no segundo trimestre – é a persistência dos elevados juros adotados no país.

Desde setembro do ano passado até a última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), a Selic saltou de 10,5% para 15% ao ano – o que a coloca entre as cinco maiores taxas reais de juros do mundo. Os técnicos do Banco Central ainda sinalizam que, com as instabilidades internacionais e o acirramento das taxas cobradas pelos Estados Unidos, a tendência é que não haja alívio na política monetária restritiva no curto prazo.

O primeiro resultado dessa trajetória de juros é a dificuldade de acesso a crédito para novos investimentos industriais, o que se reflete na queda de produção de bens de capital (-0,2%) em julho.

Uma segunda consequência dessa tendência perversa é o atraso no pagamento das dívidas contraídas pelas famílias. De acordo com a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), a inadimplência em julho atingiu 30,2% da população brasileira, o maior nível desde setembro de 2023. Pior, 12,7% não tinham condições de quitar os débitos.

Com isso, a capacidade de compra das famílias diminuiu drasticamente, o que foi demonstrado pela retração de 0,5% na produção de bens de consumos duráveis, de acordo com o relatório do IBGE de ontem.

Agrava mais ainda o cenário o comportamento frouxo do poder público no controle dos gastos – com o déficit primário de R$ 66,6 bilhões em julho, a dívida do setor público atingiu assustadores 77,6% do PIB. A situação afeta diretamente as projeções de inflação e, sobretudo, as incertezas no cenário econômico.

O enfraquecimento da produção industrial e do PIB é um resultado daninho da persistência dos juros abusivos e exige um apelo urgente para a correção de rumos, além da adoção de uma política pública responsável e justa.