A epidemia de coronavírus cobra caro, hoje, o preço de decisões tomadas no passado. Com a explosão de casos, uma rede de testes precisou ser montada no Brasil para dar conta da demanda, mas, com o congelamento de verbas para pesquisas no último ano, uma solução rápida e simples permanece aguardando recursos nos laboratórios da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) para poder chegar aos cidadãos.

Atualmente, os testes moleculares – capazes de identificar o genoma do vírus – são produzidos em três centros públicos de pesquisa em São Paulo, no Pará e no Rio. Os kits de exames são enviados para laboratórios em 15 Estados. Em Minas Gerais, a Fundação Ezequiel Dias (Funed) recebeu 250 exemplares, o que permitiu acelerar o tempo de resposta para até três dias, mas ainda abaixo da demanda diária atual.

Em audiência na Assembleia Legislativa, na quarta-feira, revelou-se que um exame mais simples, desenvolvido na UFMG e baseado na identificação da presença de anticorpos do coronavírus (semelhante ao de outras doenças comuns e que não demanda equipamentos especiais), depende de uma verba de R$ 500 mil para conclusão dos testes – menos de três vezes o custo de internação de apenas um paciente com H1N1 (de acordo com pesquisa da Universidade Estadual de Londrina feita em 2013).

Mas esse estudo peca do mesmo mal que aflige a ciência no Brasil: o corte de recursos. Em 2019, foi notório o congelamento de bolsas para doutores e mestres, e, neste ano, a proposta orçamentária para pesquisas pelo CNPq caiu aproximadamente 80%, de R$ 127 milhões para pouco mais de R$ 16 milhões. O custo estimado de R$ 5 bilhões para enfrentar a pandemia comprova que sempre chega a hora de se pagar a conta do descaso com a ciência – e ela nunca é barata.