Editorial

Vida nas ruas de BH: Mais que números

Quantidade de pessoas em situação de rua triplicou em BH desde 2013, quando foi realizado o último censo. Hoje são 5.344 cidadãos nessa situação na capital

Por O Tempo
Publicado em 10 de fevereiro de 2023 | 06:00
 
 
 
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Os dados sobre a população de rua de Belo Horizonte divulgados ontem são a matéria-prima para a formulação de políticas públicas eficientes. O censo UFMG, a pedido da prefeitura de BH mostra que esse grupo triplicou na capital desde 2013, quando foi realizado o último levantamento. Hoje são 5.344 pessoas nessa situação na cidade.

Antes de 2013, foram realizados apenas dois censos focados na população de rua – 1998 e 2006. É histórica a falta de atenção das autoridades em relação a um grupo demográfico extremamente vulnerável.

Trata-se de uma população que só foi incluída no Cadastro Único (CadÚnico) do governo federal em 2010. Apenas em 2011 passaram a ser atendidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS) sem a necessidade de comprovante de residência. Isso mostra como é recente e precária a inclusão das pessoas que moram nas ruas do país.

Em Belo Horizonte, na última década, houve mudanças importantes no perfil da população de rua. Um dos destaques é o aumento do tempo de permanência nessa situação, que era de 7,4 anos, em 2013, e passou a ser de 11 anos. Isso leva à tendência de envelhecimento da população que mora nas ruas, o que demanda estratégias ainda mais especializadas do ponto de vista social e de saúde.

A saúde mental é outro aspecto importante a ser abordado. O acesso a serviços psiquiátricos já é difícil no caso dos cidadãos em geral e se torna praticamente nulo quando se trata da população de rua. Enquanto isso, o autorrelato de transtornos mentais, que subiu de 23%, em 2013, para 54%. A prevalência de esquizofrenia encontrada no censo é cinco vezes maior do que na população em geral.

Os números indicam a complexidade da realidade de quem vive nas ruas. É preciso modernizar as formas de combater o crescimento do número de pessoas nessas condições indignas. Colocá-las em cortiços sem estrutura é esconder o problema motivado por uma visão segregacionista.

Os dados devem ser combinados com ações práticas na área de habitação, saúde e oportunidade de trabalho.

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