Vivendo com o perigo

A cada uma hora e 15 minutos, uma arma de fogo é registrada por pessoas físicas em Minas Gerais. No Brasil, são cinco por hora, segundo levantamento realizado por “O Globo” com base em dados da Lei de Acesso à Informação. Segundo um estudo ainda mais abrangente feito pela “Folha de S.Paulo”, o número é o mais alto desde 1997. Os dados demonstram como o relaxamento da legislação sobre a posse proliferou o número de revólveres, pistolas, espingardas e até fuzis nas mãos de civis.

Minas Gerais é o Estado com maior número absoluto (6.379), segundo “O Globo”, à frente de locais com população e registros de violência maiores que as dele, como São Paulo (5º lugar no ranking) e Rio de Janeiro (9º).

Ao longo deste ano, oito diferentes decretos foram lançados para flexibilizar o acesso a armamentos. Eles permitiram acesso a calibres e armas mais poderosos além de dobrar o prazo de renovação da licença para dez anos. Com as revogações de metade dessas iniciativas e os processos no Supremo, ainda há muita confusão sobre o que vale ou não. Nessas lacunas, o arsenal vai se avolumando e, segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, até 40% dele acaba sendo roubado ou desviado para o crime.

Ainda que o número de crimes violentos tenha caído 22% neste ano, não há relação desse índice com a posse de armas. Para o Ministério da Justiça, o recuo da violência está associado a ações mais rígidas nos presídios, isolamento de líderes de facções e, principalmente, investimento em prevenção e inteligência.

Segurança pública não se faz com proliferação de armamentos nas casas, mas com planejamento e estruturação das forças policiais. Só assim é possível conter o número absurdamente alto de homicídios no país que, numa mórbida coincidência, também é de cinco mortes por hora.