Morreu no Rio de Janeiro, aos 96 anos de idade, a atriz Dorinha Duval, de grande sucesso na televisão brasileira entre as décadas de 1960 e 1970. Mãe da também atriz Carla Daniel, fruto de seu casamento com o ator e diretor Daniel Filho, Dorinha faleceu nesta quarta-feira (21). A causa não foi revelada.

A notícia da morte de Dorinha Duval foi divulgada por sua filha nas redes sociais. “É com tristeza, mas alívio, que nos despedimos. Mãe, avó, amiga e que trouxe bons momentos de alegria para o público brasileiro”, escreveu Carla Daniel.

E trouxe mesmo. Com uma carreira iniciada no final da década de 1950 como vedete, Dorinha não tardou a ter êxito na televisão, em programas consagrados da linha de shows, como Times Square e A Cidade se Diverte, na TV Excelsior. Foi o tempo da dupla dos bonequinhos cantores, que formou com Daniel Filho.

Sua primeira novela foi Verão Vermelho (1969-1970), de Dias Gomes, na TV Globo. No decorrer da década, Dorinha faria outras novelas do autor: O Bem-amado (1973), O Espigão (1974) e Sinal de Alerta (1978-1979).

Em O Bem-amado, aquele que talvez seja seu momento de maior projeção na teledramaturgia. No papel de Dulcinéa, uma das Irmãs Cajazeira, apaixonadas por Odorico Paraguaçu (Paulo Gracindo), a atriz teve momentos memoráveis ao lado de colegas como Ida Gomes (Dorotéa), Dirce Migliaccio (Judicéa) e Emiliano Queiroz (Dirceu Borboleta) – infelizmente todos já falecidos.

Dorinha também fez sucesso como Diva, uma das irmãs de Cristiano Vilhena (Francisco Cuoco) na primeira versão de Selva de Pedra (1972-1973), de Janete Clair. Apaixonada pelo mau-caráter Miro (Carlos Vereza), ela acabava prejudicando o irmão e a cunhada Simone (Regina Duarte), alvos do bandido e de Fernanda (Dina Sfat).

Outra novela de Janete Clair com Dorinha no elenco foi a primeira versão de Irmãos Coragem (1970-1971). Aqui seu papel foi o de Carmem Valéria, uma cantora, mulher de Neco (Antonio Andrade), jogador de futebol amigo de Duda (Cláudio Marzo).

Minha Doce Namorada (1971-1972), de Vicente Sesso, O Feijão e o Sonho (1976), de Benedito Ruy Barbosa, da obra de Orígenes Lessa, e Maria, Maria (1978), de Manoel Carlos, da obra de Lindolfo Rocha, foram outros trabalhos de Dorinha Duval em novelas.

Além disso, a atriz marcou o público na primeira adaptação do Sítio do Picapau Amarelo, criação de Monteiro Lobato, pela TV Globo. Em 1977, primeiro ano da série, Dorinha deu vida à Cuca, que assustava as crianças com seu corpo de jacaré, cabelos loiros maltratados e uma risada característica. Nos anos 1990, histórias com Dorinha no papel de Cuca foram reprisadas na emissora e em coirmãs educativas.

Em 1980, Dorinha teve sua carreira interrompida por um drama da vida real: perdeu a cabeça e acabou matando a tiros o então marido Paulo Sérgio Garcia de Alcântara, alguns anos mais jovem do que ela, ao ser humilhada, ofendida e agredida por ele, conforme contou em seu livro de memórias Em Busca da Luz, publicado e 2002.

Dorah Teixeira, seu nome de batismo, respondeu ao processo em liberdade e foi julgada pelo crime duas vezes. Na primeira, em 1983, a pena foi de um ano e meio de prisão, em razão da alegação (aceita) de legítima defesa. No entanto, o segundo julgamento, em 1989, a pena mudou para seis anos de reclusão por homicídio sem agravantes.

Cumprida a pena, inicialmente em regime semiaberto e depois aberto, Dorinha Duval deixou a televisão e passou a dedicar-se ao trabalho como artista plástica.